 Professor Francisco Gentil
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“O Prof. Dr. Francisco Gentil é uma das figuras da Medicina Portuguesa contemporânea de maior relevo. Durante mais de 50 anos foi cirurgião de grande prestígio; mas, para lá da sua capacidade técnica, destacam-se a sua vigorosa personalidade; a obra ingente realizada na luta contra o cancro; o precoce, dilatado e fecundo magistério médico; o incomparável domínio sobre construções hospitalares e os esforços dispendidos para valorizar profissional e cientificamente a enfermagem no nosso país. Francisco Soares Branco Gentil nasceu em Alcácer do Sal, a 27 de Fevereiro de 1878.” (1)
Cursou na Escola Médico – Cirúrgica, actualmente a Faculdade de Medicina, “onde os seus dotes de inteligência e a sua infatigável capacidade de trabalho cedo se revelaram.” (2), e enquanto médico, foi um cirurgião dotado, percorreu todos os escalões da carreira: interno, cirurgião do Hospital de S. José, Chefe de Serviço de Urgência, Director da Maternidade de Santa Bárbara, Assistente da secção cirúrgica dos Hospitais Civis e Professor Cirurgião no Hospital de Santa Marta.
A sua actividade científica foi intensa e frutuosa, tendo publicado trabalhos internacionalmente reconhecidos em revistas médicas portuguesas e estrangeiras.
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| Alcácer do Sal |
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De 1905 a 1948, durante 43 anos, foi Professor da Faculdade de Lisboa, actividade que apenas abandonou por força do limite de idade. Foi aos 27 anos que assumiu o cargo de Professor substituto da secção cirúrgica e passou a dirigir o Teatro Anatómico. De 1908 a 1910 regeu Patologia Cirúrgica, Clínica Cirúrgica e Obstetrícia. Na sua brilhante carreira académica foram-lhe reconhecidas invulgares qualidades de pedagogo, tendo sido eleito Director da Faculdade de Medicina de Lisboa em Julho de 1915.
Foi um forte impulsionador da valorização da enfermagem, assumindo um papel dinamizador na formação com a criação da Escola Técnica de Enfermeiras, hoje Escola Superior de Enfermagem Francisco Gentil, que desde o inicio da sua actividade, em 1940, pugnou pela qualidade e exigência.
Assumiu o cargo de Enfermeiro - Mor dos Hospitais Civis de Lisboa e coordenou, como presidente, a Comissão de estudo para a modernização do Hospital de S. José; “Desde muito cedo começou a interessar-se pela construção de hospitais, tendo, neste domínio, atingido uma providência tal que é justamente considerado como Mestre em construções hospitalares, (…) tendo presidido ás Comissões Clínicas que realizaram o Instituto Português de Oncologia e os novos hospitais escolares de Lisboa e Porto.” (3)
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“Foi vogal do Conselho Médico Legal, membro do Conselho Superior da Instrução Pública e do Instituto para a Alta Cultura, Presidente da Sociedade de Ciências Médicas, em 1936-37, e pertenceu a várias sociedades médicas do Pais e Estrangeiro, tendo sido também distinguido com várias condecorações nacionais e estrangeiras.” (4)
Mas, apesar de toda a sua intensa e variada actividade, é à luta contra o cancro que o Prof. Francisco Gentil fica intemporalmente associado, como médico, como gestor e como influente estratega. O seu nome “ficará para sempre ligado à obra extraordinária que ergueu no Instituto Português de Oncologia(…).” (5). O IPO resulta da visão inovadora do Prof. Francisco Gentil e da sua capacidade de ultrapassar obstáculos.
A atenção do Prof. Gentil para com a oncologia assume dimensão no Hospital de Santa Marta onde, “ (…)em dezenas de anos consecutivos, desenvolveu inteiramente a sua actividade cirúrgica e deu começo aos seus esforços no combate ao cancro.” (6). Posteriormente, fez parte da 2ª Comissão nomeada pelo Governo para o estudo do cancro, que assumiu um papel essencial na forma como era encarado o tratamento dos doentes oncológicos.
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Marco fundamental na história da Luta Contra o Cancro em Portugal aconteceu em 1923, quando, graças à actividade do Prof. Francisco Gentil, é publicado o Decreto nº 9333, por si elaborado, que criava o Instituto Português para o Estudo do Cancro, hoje Instituto Português de Oncologia. Francisco Gentil foi nomeado, pelo mesmo diploma, Presidente da Comissão Directora do novo Instituto, tornando indissociáveis a Instituição e o seu fundador. Este decreto marca o início de uma abordagem específica do cancro em Portugal e estabelece objectivos inovadores de investigação, ensino e assistência a doentes, sendo que o Instituto assim pensado estava à frente do seu tempo, pois só 60 anos depois a União Internacional Contra o Cancro e a Organização Mundial de Saúde emitiram definições e orientações que já se encontravam reflectidas na criação do IPO.
Em Junho de 1927, Francisco Gentil, consegue que sejam disponibilizadas verbas pelo Instituto de Seguros Sociais Obrigatórios e de Previdência Geral e iniciam-se as construções dos primeiros edifícios do Instituto, num terreno adquirido para esse fim. A partir desta data, progressivamente, foram sendo construídos os vários Pavilhões que hoje completam o IPO, construções que se basearam nas ideias e objectivos do Professor, que assumiu uma forte intervenção em todo o processo.
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| Cartão de Visita |
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Em reconhecimento da sua actuação, a Universidade de Coimbra concede ao Prof. Francisco Gentil, em 1948, o grau de Doutor Honoris Causa.
Em 1961 o Professor sofre um acidente vascular cerebral que o obriga a cessar as suas funções no Instituto e acaba por falecer a 13 de Outubro de 1964, deixando um legado que perdura até aos dias de hoje; a sua visão e o projecto que construiu continuam a servir os doentes.
Posteriormente, foi publicada a portaria do Ministro da Educação Nacional que determinou que o Instituto Português de Oncologia passasse a ter a designação de Instituto Português de Oncologia Dr. Francisco Gentil, em homenagem ao seu fundador.
Considerado, ainda actualmente, como a 1ª autoridade na Luta Contra o Cancro em Portugal, de que foi organizador e dinamizador incansável, o Professor Francisco Gentil é, para além de uma incontornável figura na medicina portuguesa, reconhecido como “(…)um dos últimos exemplares de uma época quase impossível de repetir-se; uma daquelas poderosas e raras personalidades em que méritos e deméritos, coerências e contradições atingem uma grandeza subjugadora, tumultuosa, quase voraz, que nem todos os ambientes deixam medrar; um daqueles homens que, sendo uma explosão da natureza, abrasam a rotina com a sua audácia vulcânica, assustando os timoratos com a sua imaginação, empurrando os indolentes com a sua energia, persuadindo os incrédulos com a sua pertinácia, manobrando os cortesãos, os mesquinhos e os pérfidos com a sua astúcia, e ao mesmo tempo destroçando os fracos com o despotismo da sua vontade. Homens desta raça projectam e realizam sozinhos o que gerações inteiras apenas conseguem ambicionar. “(7)
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Fica também do Prof. Francisco Gentil a imagem de um médico e gestor preocupado com o doente, são suas as afirmações:
“Os doentes que não trazem carta de apresentação são recomendados pelo Director.” e “ Nada, nem mesmo a clássica vaidade médica deve sobrepor-se ao interesse dos doentes.”.
A sua preocupação e dedicação são-lhe reconhecidas unanimemente, Fernando Namora referindo-se a Francisco Gentil diz, “(…) o doente importava acima de tudo. O doente, no Instituto, tal como nos vários serviços que o Prof. Gentil comandou, era alteza; nada parecia de mais em seu proveito: conforto e solicitude, terapêuticas e dedicação. Todas as criações de Francisco Gentil foram, aliás, alicerçadas nessa divisa: o enfermo em primeiro lugar.”
Ainda hoje o Instituto se submete a este comando do seu fundador e a sua actividade rege-se pelo primado do doente.
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