INSCRIÇÃO PALEOCRISTÃ DE VILARES (TRANCOSO) | A ecclesia suévica de Osania?
No sopé da Serra da Broca, aquando de uma obra para a abertura de uma estrada junto à aldeia de Vilares foi identificada uma importante inscrição honorífica num afloramento granítico.
Inscrição rupestre paleocristã de 495 d.C.,
AEDI. IESUS (criptograma) / DOMINI / CATURO / AREINI (filius) / LOCUM. L(atum) / P(edes). XXV. ACT(um) / PR(idie) K(alendas) IUN(!)A(s) CO(n)S(ulibus) / ANASTASIO? (sob ana-grama) O(rientis). VIA(tore) O(ccidentis)
“Caturão, filho de Areino, tomou posse para o templo de Jesus, o Senhor, de um solar (?) de25 pés de largura. Fez-se o contrato o dia anterior às calendas de Junho (31 de Maio) do ano em que o imperador Anastasio? era cônsul para o Oriente e Viator para Ocidente (495 d.C.)”
A Inscrição faz referência à construção de um Templo por Caturão, sendo importante destacar as menções ao Imperador Anastasio (com reservas, de difícil leitura), e Viator Imperador do Ocidente. Refira-se que a capela actual de Vilares tem num dos lados, sensivelmente, as medidas do antigo templo referido na inscrição – cerca de 8m. O lugar de Vilares tem vindo a ser apontado como possível Vicus em época romana. Por uma área de 30.000 m2identificaram-se tegulae, bases de coluna, fustes de coluna, ara anepígrafa, pesos de lagar, cerâmica comum,terra sigillata (marmoreada) e escória (média) e muitos fragmentos de Sigillata Hispânica Tardia do tipo Dragendorff 15/17 do séc. III d. C. ao V d. C.
Um núcleo de sepulturas escavadas na rocha localizadas a cerca de 150m a Este do local do achado da inscrição poderá indiciar uma ocupação continuada do sítio até à Alta Idade Média.
Vilares – A ecclesia suévica de Osania ?
Segundo o Prof. Jorge Alarcão, o lugar de Vilares deveria corresponder a ecclesiae de Osania, referida noParochiale Sueuorum (1) e que os vestígios arqueológicos encontrados deixam suspeitar um povoado importante.
Segundo o autor em artigo publicado na Revista “Côa Visão” nº 7 de 2005, a leitura da inscrição suscita-lhe duvidas,
“A leitura da parte final da inscrição e, consequentemente, a cronologia, suscita dúvidas que nos foram sublinhadas por Fernando Curado.
A dimensão de 25 pés (isto e, de cerca de 7,5 m), se reportada a uma fachada, adequa-se a uma pequena igreja “paroquial”. Dado que não se trata de epigrafe numa pedra de cantaria de um templo. mas de inscrição rupestre devemos reservar o nosso juízo quanto ao destino que teve o locus ocupado por Caturão.
A identificação da ecclesia suévica de Osania com Vilares deve, pois, aguardar que se obtenham provas seguras ou argumentos mais convincentes.”
Constituem esta freguesia os lugares de Vilares, Maçal da Ribeira e Broca.
Foi nesta última povoação que tudo começou, isto em termos de estabelecimento de comunidades humanas no território da freguesia. Ocupando uma posição dominante sobre a vertente do lado oeste da serra da Broca, perto da nascente da ribeira do Minhocal, existiu no cume do Cabeço da Broca um importante castro que se julga de fundação neolítica.
Ali foram encontrados inúmeros vestígios de alicerces de casas circulares e de outras edificações com características daquele período, para além de restos de objectos de pedra polida e de metais provavelmente datados de eras muito recuadas.
Bibliografia
PORTUGAL ROMANO - site, Hispania Epigraphica -site e Côa Visão nº7