O Mosteiro
O Mosteiro de Grijó teve origem numa pequena igreja, fundada em 922, sob a invocaçao de S.Salvador. Nascida da iniciativa de dois irmãos, Guterres Soares e Ausindo Soares, integrava-se na tradição dos pequenos mosteiros familiares do monaquismo ibérico anterior à reforma cluniacence. Até finais do século XI, a sua existência foi bastante modesta, altura em que, uma importante família de infanções, Soeiro Fromarigues, sua mulher e filhos, decidiu chamar a si a sua restauração. Esta família foi dotando o mosteiro de terras e conseguindo imunidades do poder condal e, mais tarde, real que, no seu conjunto, constituiriam a base material de manutenção da comunidade monástica. Em 1132, aderiu à Regra dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. Em breve, no primeiro priorato, confiado a D. Trutesindo, mercê dos favores de D. Teresa, D. Afonso Henriques e D. João Peculiar, bispo do Porto, a Santa Sé concedeu ao Mosteiro isenção episcopal e protecção Apostólica. A partir de então os priores usavam as insígnias pontificais. O seu vasto património fundiário era um espaço disperso que se estendia de Norte para Sul entre os rios Douro e Vouga, verificando-se a maior concentração de propriedade no aro envolvente de Grijó, num raio de dez quilómetros. O séc. XVI foi particularmente importante na vida desta comunidade. Em 1527, D. João III decidiu a reforma da vida monástica e em 1536, deixou o padroado deste mosteiro para este se reformar e unir à congregação de Santa Cruz de Coimbra. Nesse mesmo ano, alegando que o local era doentio e desagradável, a comunidade deslocou-se para a Serra de Quebrantões, fronteira à cidade do Porto. Desta mudança nasceu o Mosteiro de Agostinho da Serra, em 1564. Em breve, porém, um grupo de 'saudosos' do assentamento tradicional decidiu regressar a Grijó. O abandono a que tinham sido votados os edifícios e a vontade de ter acomodações dignas da sua antiguidade e regalias estão na base da decisão tomada, em 1564, de reconstruir totalmente este mosteiro. A história artística de S. Salvador de Grijó acompanhou o fervilhar ideológico do Portugal de Quinhentos. Enquanto objecto artistico já foi classificado por especialistas como exemplar da Renascença, do Estilo Chão e do Maneirismo. As reformas arquitectónicas reaIizaram-se entre 1572 e 1636 e foram posteriormente retomadas a partir de 1710. A planta, de 1572, supostamente da autoria de Francisco Velásquez, concebe um vasto rectângulo onde distribui, da esquerda para a direita, a igreja, o claustro e demais dependências monásticas. A partir de 1581, a direcção das obras passa a ser da responsabilidade de Gonçalo Vaz. Apesar do longo período de construção, não terá havido alteração do programa construtivo. Assim, a utilização da gramática decorativa geométrica de raiz maneirista repete-se na fachada, transepto, arco cruzeiro, capela-mor, claustro e sacristia.
A igreja
A igreja, concluída e benzida em 1626, ocupa uma área destacada no conjunto. Apresenta planta rectangular, de acordo com as necessidades litúrgicas impostas pela reforma saída do Concilio de Trento. Nave única, estreita e comprida, antecedida por galilé profunda, é ladeada por três capelas laterais inter comunicantes, de cada um dos lados. A capela-mor é profunda e compõe um rectângulo em articulação estreita com a nave. A fachada que acusa influências flamengas, provavelmente setecentista, desenvolve-se em altura. É dividida em três corpos horizontais. O segundo registo da fachada, que apresenta uma profusa decoração geométrica, é composto por um rasgado janelão central ladeado por dois nichos concheados que acolhem as imagens de S. Pedro e S. Paulo. Sobre os nichos abrem-se duas janelas. Recentemente, nestas aberturas, foram colocados vitrais, da autoria do Mestre Júlio Resende, que representam a Trindade e a Criação. No século XVIII o seu interior foi renovado. As artes decorativas do azulejo e da talha, características do Barroco, preenchem o seu interior, com destaque para a capela-mor.
O claustro
O claustro do mostero é muito amplo, fazendo um quadrado. Tem duas galerias sobrepostas. A superior tem colunas quase compósitas. O piso inferior apresenta colunas jónicas assentes em base grossa e recortada. Aqui destacam-se os painéis de azulejo, representando os evangelistas e da igreja. No centro está uma fonte do inicio do século XVII autoriade Gonçalo Vaz. Assume particular relevo o túmulo de D. Rodrigo Sanches. Feito em pedra ançã, é uma jóia da arte escultórica sepulcral do sec XIII e da arte românica. Apresenta na sua face frontal um conjunto de pequenas figuras com Cristo ao centro. Dom Rodrigo aparece envergando vestes de guerreiro segurando uma sobre o peito. Em 1770, Clemente IV, por sugestão do Marquês do Pombal, no reinado de D. José, determinou a extinção deste Mosteiro, passando grande parte dos seus bens para o convento de Mafra. No reinado de D. Maria I os Cónegos regressaram a Grijó. Porém, em 1834, com a extinção das Ordens Religiosas, a quinta do mosteiro foi anexada aos bens do estado e vendida em hasta pública.
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