Vale da Rasca
"Olhe que as origens disto são de pessoas à rasca e não de gente rasca." O recado é dado em tom sério, para evitar mal-entendidos, por Florival Laginha, uma espécie de porta-voz dos cerca de 200 moradores que teimam em continuar a viver no Vale da Rasca, apesar de a desertificação rumo a Setúbal ter reduzido a população para mais metade nos últimos anos.
O nome da terra fértil para a agricultura, em plena serra da Arrábida, dá azo a várias explicações. Há quem fale num pescador, oriundo do Algarve, a quem a vida corria de vento em popa após se ter instalado naquela vale sadino, mas à medida que as dificuldades surgiram queixava-se a todos que andava à "rasca."
Só que Florival Laginha, o "Regedor", como é alcunhado, desconfia que esta explicação é apenas lendária e que quem tem a versão correcta é o professor Ferreira da Cunha, segundo a qual o nome "Rasca" surgiu por se tratar de um local para onde vários condenados eram enviados para trabalharem a terra. "Metiam-nos cá para que se desenrascassem. Aliás, nós não temos número de polícia. A identificação das casas é tudo por casais."
Outra curiosidade, é que a localidade se chamou apenas "Rasca" até há 40 anos, quando Laginha, a cumprir serviço mili- tar em Évora, descobriu nas Cartas do Exército que, afinal, o lugar se chama "Vale da Rasca".
Fonte: DN Portubal 10 Março 2009