Ponte de Estorãos
São ainda muito discutidas as origens e as fases construtivas desta ponte. As opiniões mais consensuais (as que se fundam na análise criteriosa dos vestígios materiais remanescentes) coincidem na sua catalogação romana (MELO, 1967; RIBEIRO, 1998, p.187), mas há vários indícios que apontam para que, primeiro na Idade Média e, depois, na época moderna, tenham existido campanhas construtivas com algum impacto; isto é, embora se desconheçam as suas características básicas e respectivas cronologias, não se terão limitado a consolidar a estrutura já existente, actuando sobre ela de alguma forma.
Na época romana, a ponte fazia parte de uma das mais importantes vias da região, ligando a Ponte de Lima mas, mais importante, implantando-se na estrada que colocava em comunicação Braga e o noroeste peninsular. A sua relevância, neste contexto, determinou certamente a construção da obra que, genericamente, chegou até aos nossos dias.
A sua estrutura é comum, embora conferindo maior relevo que o habitual aos suportes intermédios. Compõe-se de três arcos de volta perfeita - sendo o central de maior vão que os laterais -, de aduelas e aparelho muito regular e de bom tamanho. Entre eles, existem poderosos talhamares triangulares, bem salientes, que conferem ao monumento uma exagerada imagem de robustez que não é comum encontrar-se na actividade pontística romana. Este facto, a par das diferenças de aparelho nos talhamares e do simples encosto destes elementos aos pegões (NOÉ, 1992, DGEMN on-line), parece vir confirmar a existência de uma campanha reformadora na Idade Moderna, provavelmente nos séculos XVI ou XVII, como sugeriu Ferreira de Almeida (ALMEIDA, 1987, p.118).
O aparelho de enchimento encontra-se muito obstruído pela densa vegetação, mas é possível encontrar algumas fiadas menos cuidadas que as que compõem o intradorso dos arcos, sintoma de uma provável reconstrução medieval. Esta hipótese é alargada ainda pela análise das guardas - claramente dissonantes em relação aos silhares de origem romana - e do perfil do tabuleiro - em duplo cavalete rampante, acompanhando a diferença de abertura do arco médio em relação aos laterais, tão ao gosto da Baixa Idade Média.
Desta forma, e ainda sem um estudo rigoroso da ponte, podemos considerar três grandes fases construtivas, em outras tantas épocas: à primitiva edificação romana, ter-se-á seguido uma reconstrução medieval (que actuou preferencialmente sobre o aparelho de enchimento e o tabuleiro) e, posteriormente, uma moderna (a que se deverá um maior cuidado com a estrutura, reforçando-a com poderosos talhamares).
Da época moderna datam outros dois dispositivos públicos relacionados com a ponte: um cruzeiro e uma alminha. Tratam-se de exemplos característicos da sacralidade que, ao longo dos tempos, rodeou estas passagens ribeirinhas e, de uma forma geral, os próprios caminhos. Paulo Pinto relacionou-os com a cristianização de antigas estruturas romanas (PINTO, 1998, p.93), mas a verdade é que desempenharam uma vocação muito mais devocional aplicada ao gesto de viajar, que se pretendia em segurança física e espiritual.
O cruzeiro implanta-se ao meio do pavimento, nas guardas voltadas a montante, e é uma peça restaurada nos anos 60 do século XX, composta por coluna delgada encimada por capitel jónico e sobrepujada por cruz. A alminha é mais complexa e localiza-se num dos extremos da estrutura. Compõe-se de espaldar recto encimado por frontão contracurvado, onde assenta uma cruz, e possui, ao centro, um painel cerâmico de carácter popular, alusivo às Almas do Purgatório.
Praticamente em ruínas na década de 40 do século XX, a ponte foi parcialmente restaurada em 1949, por iniciativa da Câmara Municipal de Ponte de Lima que, entre outros trabalhos, substituiu integralmente o pavimento, renovou parte das guardas e consolidou as juntas com cimento.
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