Era uma vez um homem que saiu pelo mundo em busca de justiça. Viu como as pessoas se tratavam mal umas ás outras, e como eram cruéis com os animais.Com certeza, pensou, o mundo todo não era assim tão inóspito. Em algum lugar, tinha certeza, devia existir a verdadeira justiça, mas ele nunca a havia encontrado. Então, partiu para uma busca que consumiu a maior parte dos seus anos. Foi de cidade em cidade e de vila em vila procurando justiça. Mas jamais a encontrou.
Desta maneira, muitos anos se passaram até que o homem tivesse explorado todo o mundo conhecido, com exceção de uma última floresta muito grande.
Nesta floresta encontrou uma cabana! Uma cabana naquelas enormes rochas que emolduravam a paisagem. Pela janela viu muitas chamas tremeluzindo, e se perguntou por que elas estariam queimando. Bateu a porta, mas ninguém veio abrir, empurrou a porta e entrou.
Assim que entrou na cabana, o homem percebeu que ela era muito maior por dentro do que aparentava por fora. Viu que ela estava cheia de centenas de prateleiras, e em cada prateleira havia dezenas de lamparinas a óleo.. Algumas pareciam cheias de óleo, e as chamas ardiam com fulgor. Mas em algumas só havia um restinho de óleo, e parecia que estavam apagar-se.
De repente um homem idoso apareceu á sua frente. Tinha uma barba branca e comprida.
-Que paz esteja contigo, meu filho-disse o velho.- Em que posso ajudá-lo?
O homem que procurava justiça respondeu:
- Fui a todo lugar procurando justiça, mas nunca havia visto uma coisa assim. Diga-me, o que são todas as luzes?
-Cada uma destas lâmpadas é a luz da lama de uma pessoa-disse o velho.- Enquanto essa pessoa estiver viva, a lamparina continua a arder, mas quando a alma da pessoa abandona este mundo, a lâmpada apaga-se.
– Pode mostrar a lâmpada da minha alma? -perguntou o homem que procurava justiça.
-Venha comigo-disse o velho, e abriu caminho pelos labirintos daquela cabana que parecia não ter fim.
Finalmente chegaram a uma prateleira baixa, e ali o velho apontou para uma lamparina num suporte de barro. O pavio daquela lamparina estava muito curto, e sobrava muito pouco óleo. O velho disse:
-Esta é a lâmpada da sua alma.
Ora, o homem olhou para aquela, e um grande medo o invadiu. Era possível que o fim estivesse tão perto sem que ele soubesse? Então por acaso ele reparou na lamparina que estava ao lado da sua. Estava cheia de óleo, e o pavio era longo, e a chama ardia com forte luz.
-E de quem é esta lâmpada?-perguntou
-Só posso revelar a lâmpada de cada um para a própria pessoa-disse o velho, virou-se e saiu.
O homem ficou ali, encarando a sua lâmpada, que parecia estar quase a apagar-se. De repente, ouviu um estalo, e quando olhou para cima, viu fumo a sair de uma outa lanterna e soube que, nalgum lugar, alguém não estava mais entre os vivos. Voltou o olhar para sua própria lâmpada e viu que sobravam apenas umas poucas gotas de óleo. Então, virou-se para a lamparina ao lado da sua, tão cheia de óleo. E um pensamento terrível veio á sua mente.
Afastou-se e procurou encontrar o velho, mas não o viu em lugar algum.
Então, ergueu aquela lamparina com óleo, pronto para verter na sua. Mas, de repente, o velho apareceu vindo do nada, e agarrou o braço dele com um aperto de ferro. E o velho disse:
-É essa a espécie de justiça que você está procurando?
O homem fechou os olhos. E quando abriu os olhos, viu que o velho não estava mais ali.
Permaneceu apenas a cabana, no meio da Natureza, para lembrar a todos os que percorrem aquele trilho, que não devemos colocar-nos acima dos outros, porque numa qualquer altura da nossa vida podemos igualmente falhar! Tolerância, respeito e compreensão são os ingredientes para uma vida harmoniosa.