Referido na documentação dos séculos XI e XII como Mosteiro de Santa Maria de Vila Boa, este cenóbio estava já ligado aos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho em meados do século XII.
Segundo a tradição, a casa monacal foi fundada entre 990 e 1022, por D. Sisnando, bispo do Porto (entre 1049 e 1085) e irmão de D. Monio Viegas, no lugar onde terá decorrido a legendária batalha entre cristãos e muçulmanos, como refere a Crónica dos cónegos agostinianos.
Desde as suas origens que este Mosteiro se liga à linhagem dos Gascos de Ribadouro, família nobre que alcançou grande influência na época. Senhores de um grande número de mosteiros estrategicamente posicionados ao longo dos afluentes do Douro, em ambas as margens e nos percursos da Reconquista, estes senhores controlavam assim uma ampla área geográfica a norte e a sul desse rio.
De aludir que o território em causa apresentava condições favoráveis à vida monástica: acidentado, era pouco frequentado por viajantes e fora recentemente arroteado e repovoado por uma população que, nos séculos seguintes, se mostrou bem enraizada.
Durante algum tempo, identificam-se membros da estirpe dos Gascos, diretos descendentes deles, na posse de haveres em Vila Boa do Bispo ou no território da atual freguesia.
A sua importância foi tal que chegou a receber carta de couto de D. Afonso Henriques em 1141 e foram-lhe concedidos privilégios especiais pelos pontífices da época: os priores do Mosteiro podiam usar mitra (Breve de Lúcio II, 1144) e receberam a distinção do uso do báculo (Bula de Anastácio IV, 1153).
Nos séculos XIII e XIV era Vila Boa do Bispo um dos mais ricos e poderosos Mosteiros da região. No século XVI passou para a gestão dos Comendadores e na centúria seguinte as Crónicas enalteciam de forma laudatória a importância da lenda que se liga à fundação desta casa monástica.
É, pois, neste contexto que a Igreja românica vestiu uma nova roupagem. Conforme indicam as várias cartelas estrategicamente colocadas no interior do edifício, as principais transformações ocorreram entre 1599 e 1686.
Na capela-mor respira-se barroco. O revestimento azulejar, em azul-cobalto sobre branco, nas paredes laterais conjuga a composição de figura avulsa no registo superior com uma elaborada composição de motivos florais em jarrões, ladeadas por figuras femininas híbridas, com cercadura de folhas contorcidas. O retábulo-mor foi composto dentro do gosto do barroco nacional.
Na nave impera a pintura de trompe-l’oeil, seja com marmoreados (porta da sacristia, púlpito e arco de sustentação do coro) ou com decoração cenográfica.
Na Capela do Santíssimo Sacramento abundam elementos arquitetónicos fingidos e a comum ornamentação floral com elementos brutescos ao gosto da celebração barroca.
Os retábulos colaterais, em estilo nacional, evocam o Santo Cristo e a Virgem do Rosário, e o lateral, na nave do lado esquerdo, a Virgem da Assunção.
Um extravagante varandim com balaustrada com falsos marmoreados, no lado esquerdo da nave, mostra uma base decorada com chinoiserie. É suportado por um atlante sobre uma meia-concha.
Destaque para o acervo de tumulária que subsiste, tanto no interior como no exterior da Igreja e que aponta para sepultamentos ao longo dos séculos XIII e XIV.
Fonte: http://www.rotadoromanico.com/
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