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E. N. T. Multi-cache

Hidden : 2/17/2015
Difficulty:
1 out of 5
Terrain:
3 out of 5

Size: Size:   small (small)

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Geocache Description:


Tradução:

 

Funchal, início do século XIX.

Este oficial chamava-se Joaquim Augusto de Sousa.

Observe bem a foto: farda a rigor, boné da Marinha e bigode retorcido, bem ao gosto da época. À esquerda, uma mesa com um livro e uns binóculos. À direita, um piano… UM PIANO??!! Qualquer oficial da Marinha da época teria orgulho em fotografar-se a bordo da sua embarcação ou abraçado a uma peça de artilharia, nunca ao lado de um qualquer instrumento musical!

Pois bem, adianto-lhe já que isto é tudo cenário. Um faz-de-conta!

 

Desde que a Madeira foi povoada, os seus habitantes viveram num ambiente de quase completo isolamento. Os contactos com o mundo exterior só ocorriam nos dias em que algum navio aportava a esta formosa e prometedora ilha atlântica. Esse isolamento só foi verdadeiramente quebrado com a democratização do transporte aéreo e com os novos meios de comunicação. Até aí o navio era rei e a sua chegada era um verdadeiro acontecimento.

Os homens do mar exerciam um verdadeiro fascínio para muitas pessoas. Como se fossem verdadeiros heróis ou uma espécie de seres vindos de outros planetas, com as suas fardas, os seus usos e costumes algo estranhos e, sobretudo, com as novidades de terras distantes. Na parte baixa do Funchal (ruas de Santa Maria, Alfândega, Murças, Sabão, Tanoeiros, Carreira, etc.) é habitual os edifícios mais antigos possuírem uma torre de ver o mar. E nas velhas moradias das cercanias da cidade, é costume haver sempre um balcão, um mirante ou uma casinha de prazer.

Por outro lado, quem cá vivia tinha que dar largas à imaginação para romper com a monotonia, evitar o tédio e não cair no desânimo e frustração. O isolamento e o sonho de ser marinheiro, somados ao desejo de convívio e divertimento, resultaram num dos fenómenos sociais mais curiosos que há na história do arquipélago e singular no mundo inteiro!

No período de atribulada confusão política que decorreu em Portugal, entre a penúltima década do século XIX e o deflagrar da primeira Grande Guerra, existiram na Madeira três originais instituições de carácter pré-militar, recreativo... vinícola... e... gastronómico. Foram as denominadas "ESQUADRAS DE NAVEGAÇÃO TERRESTRE", de cujas "guarnições" fizeram parte os burgueses mais categorizados e a janotagem mais em evidência no pacatíssimo Funchal daqueles tempos.


O QUE ERAM AS ESQUADRAS DE NAVEGAÇÃO TERRESTRE?

 

Segundo várias opiniões, tudo começou com grupos de proprietários que, usando o alfabeto homográfico (um modo de comunicação à distância em que as letras do alfabeto correspondiam às posições de duas bandeiras manejadas por um homem), combinavam "assaltos" às adegas de pessoas conhecidas. Em segredo, estabeleciam o local e a hora para o "raid". Dirigiam-se, fora de caminhos, através de terras de cultura, agachados e a coberto de canaviais e bananeiras, até à "embarcação inimiga", isto é, à adega que deviam "atacar". Chegavam de garganta seca à casa da "vítima". O "comandante inimigo", quer dizer, o proprietário, rendia-se sem abrir fogo, e as pipas ficavam, com o que havia nas despensas, à disposição dos "agressores".

Não raramente, um "espião", saído de entre os próprios agressores, denunciava ao "inimigo" o dia e hora do ataque, "crime" a que o "Almirante" fazia vista grossa, pela certeza de alcançar assim mais gorda presa... Mas, se a "vítima" tinha fama de sovina, então nestes casos a invasão era feita absolutamente de surpresa.

Quer num caso, quer noutro, promovia-se, claro está, uma improvisada festança, bem regada com o que de melhor se produz a partir das uvas madeirenses.

A maior originalidade daquelas agremiações consistia, porém, no facto das suas constituições orgânicas terem carácter tipicamente naval, dos seus regulamentos serem quase integralmente copiados da Marinha de Guerra Portuguesa e de seguirem à risca os protocolos e cerimoniais da ordenança, como se de verdadeiros militares se tratassem. Era rigorosa a disciplina e obrigatório o fardamento de marinha, quando em "serviço", brilhando as dragonas doiradas dos "oficiais superiores" dessas "armadas" simbólicas e dispondo de autênticos canhões de campanha, bombardas e espingardas de guerra.

O seu pessoal estava dividido em "oficiais" (normalmente os proprietários ou empresários mais abastados), "sargentos" (os empregados dos escritórios, capatazes e outros mais instruídos) e "praças" (os trabalhadores do campo). Tinham capelão, médico, ordens de serviço, treino militar, fanfarras e formaturas. Por vezes, pediam emprestadas à Guarda-fiscal espingardas e outro armamento para o seu cerimonial mais importante.

Procuravam ser rigorosos na escolha dos candidatos e nos exames de apuramento. A proposta do candidato teria de ser subscrita por três membros efectivos e afixada num quadro preto na sede do respectivo "Almirantado", durante uma semana, sujeita a reclamações. Findo o prazo, era o pretendente submetido à aprovação do "Estado-maior" por escrutínio secreto. A principal condição para a admissão era a idoneidade absoluta do proposto.

Quem visse as "companhias de marinha terrestre" marcharem, aprumadas, nas ruas do Funchal antigo, com rigor marcial, as fardas reluzentes dos oficiais, com as suas espadas desembainhadas refulgindo ao Sol merídio; no coice, assustadores canhões em carretas e à frente a fanfarra afinada, sob o comando do "Almirante" a cavalo (ou a pé, conforme as circunstâncias), ficava altamente impressionado. E o povo aplaudia delirantemente tão lustrosas formações em marcha.

Mas, tratando-se de esquadras navais, onde estavam os navios de guerra? Estavam em terra, por muito estranho que o "fenómeno" pareça…

Os oficiais de patente superior eram pessoas ricas e categorizadas da comunidade, residindo em Quintas ou Vilas nos arredores da cidade do Funchal. Eram nos balcões ou mirantes daquelas residências aparatosas, geralmente situadas em pontos culminantes ou proeminentes, nas colinas e montes sobranceiros à velha cidade, ou sobre o mar, que se encontravam instaladas, ou melhor, "fundeadas", as "fragatas", "corvetas" e "canhoneiras" de guerra (tal como os numerosos e minúsculos fortins das antigas milícias se espalhavam ao longo da costa). Consistiam os navios em construções adequadas, com as suas torres e pontes de comando construídas de madeira, e os altos mastaréus, com as suas gáveas e traquetes, sobre as quais drapejavam ao vento os galhardetes, as flâmulas e os mariatos com as já mencionadas bandeiras de sinalização (para as respectivas comunicações ou transmissões "de ordens de serviço").

Por detrás das muralhas ou mirantes de algumas quintas ou "fragatas" surgiam, ameaçadoras, as bocarras de uma ou outra colubrina ou bombarda. Rara era a residência de certa categoria que não ostentasse, por influência da época, o seu níveo mastro altivo, ainda que o seu proprietário não fosse "marinheiro".

Alguns "oficiais graduados" também possuíam pequenas embarcações a vela para "serviços" no mar. Todavia, quando se tratava de viagens de cadetes ou de "guerra", tais como, por exemplo, "assaltos" às então vilas de Santa Cruz ou de Machico, eram alugados, aos fins-de-semana, embarcações de maiores dimensões.


AS TRÊS ESQUADRAS DE NAVEGAÇÃO TERRESTRE

 

De 1880 a 1916 foram "activadas" três Esquadras: a "Esquadra Submarina de Navegação Terrestre"; mais tarde, alguns dissidentes fundaram a "Esquadra Torpedeira de Navegação Terrestre", quiçá para torpedear a primeira; e, por fim, surgiu a "Esquadra Independente de Navegação Terrestre" que, provavelmente, agregava os que não queriam entrar nas disputas das duas primeiras.

Apesar da grande rivalidade existente entre as respectivas guarnições, nunca chegou, que se saiba, a haver qualquer "declaração" ou "estado de guerra" entre elas. Nas comemorações de datas históricas, nas grandes e tradicionais festividades da ilha ou ainda fora do "serviço" era até frequente a "marinhagem" confraternizar… Porém, logo que metia farda, a coisa mudava de figura, os ressentimentos surgiam, subsistia uma espécie de "guerra fria" e então as unidades, receosas, esquivavam-se umas às outras, não por falta de bravura, com certeza, mas porque as ordens eram de evitar arruaças, sob pena de rigorosos castigos disciplinares. Havia todo o cuidado em não alterar a ordem pública.

No seu conjunto, as três "esquadras" reuniam, por volta de 1908, 52 unidades de "guerra" ("couraçados", "fragatas", "corvetas" e "canhoneiras") sob o alto comando de 10 "Almirantes". Uma força simbólica capaz de enfrentar, ao tempo e em número, a Armada Nacional! Pelo menos, gastronomicamente...

De seguida são apresentadas as principais características de cada uma delas.

 

1.ª

ESQUADRA SUBMARINA DE NAVEGAÇÃO TERRESTRE

(E. S. N. T.)

 

Iniciada antes de 1880, com carácter boémio, somente nos últimos dois anos do século XIX é que passou a constituir uma "força armada" copiada da Marinha Nacional. O seu chefe supremo e fundador foi o "Almirante" Eduardo Sarsfield.

À data de 31-12-1903, o seu "Estado-Maior" era constituído pelos seguintes oficiais:

"Almirante": o já mencionado Eduardo Sarsfield;

"Vice-Almirante": Coronel Bernardino Pereira;

"Contra-Almirante": Vago;

"Capitães-de-mar-e-guerra": José Cândido Henriques (depois Contra-Almirante), João Frederico Rego e Manuel Martins de Freitas Rato;

"Capitães-de-fragata": Daniel Sarsfield, J. A. de Sousa e J. A. Rodrigues;

"Capitães-tenentes": Dr. Alfredo Barreto (médico), Pedro do Quental e João Maximiano de Abreu Noronha.

O primeiro "quartel", na fase menos "bélica" ou inicial, funcionou na residência do "Almirante" e depois, na Casa Branca, ao Salto Cavalo. A partir de 1906 ficou instalado no 1.º e 2.º andares do edifício do Largo da Igrejinha. O "quartel" era uma espécie de clube, com salas destinadas aos "oficiais" e à "marinhagem". Dispunha de bar e mais dependências. Havia sempre "oficial de dia" e uma "sentinela" à porta.

Os seus "efectivos" andavam à volta de 150 homens. Teve vários "capitães-médicos" em diferentes épocas, salientando-se o Dr. Manuel Barreto, que daria depois o seu nome à rua onde teve sua residência.

A artilharia móvel era constituída por várias peças de bronze, de carregar pela boca, duas de culatra, uma carreta de material, etc. Possuía um "Código Privativo" de sinais por bandeiras, da autoria do próprio "Almirante".

Os últimos canhões sobreviventes foram oferecidos ao Clube Naval do Funchal.

Segundo uma ordem da "Esquadra Submarina de Navegação Terrestre", emitida a bordo da "fragata-almirante" em 21 de Dezembro de 1903, e assinada pelo Almirante Eduardo Sarsfield, existiam 19 unidades de Marinha, no "efectivo": 11 "fragatas", 3 "corvetas" e 5 "canhoneiras".

Código Particular de Sinais (com bandeiras) da Esquadra Submarina de Navegação Terrestre*

*Coordenado e manuscrito em 1882 por Daniel Sarsfield.

 

2.ª

ESQUADRA TORPEDEIRA DE NAVEGAÇÃO TERRESTRE

(E. T. N. T.)

 

Fundada em 1903 com alguns dissidentes da "Submarina" e com o objectivo de a “torpedear”, teve como "Almirante" e fundador o comerciante João Valentim Maltês.

O seu "Estado-Maior" era constituído pelas seguintes "altas patentes":

"Almirante": o já mencionado João Valentim Maltês;

"Vice-Almirante": Francisco Quintino Fernandes;

"Contra-almirante": José Augusto Pereira (Garantido);

"Capitães-de-mar-e-guerra": Francisco Assis Ferreira (?) e… Martins;

"Capitão-médico": Dr. António Capelo;

O "quartel-general" estava instalado na Quinta da Saudade, no Beco do Sales (Rua do Til).

A artilharia móvel era constituída por três canhões de campanha, fundidos no Arsenal de S. Tiago.

Possuía 25 "fragatas", "corvetas" e "torpedeiros".

Chegou a ser a mais poderosa e numerosa, em "efectivos", das três esquadras (cerca de 200 homens "armados em pé de guerra").

Os uniformes e regulamentos eram também copiados da nossa Armada Real.

Tinha o seu próprio brasão de armas e código de sinais.

 

3.ª

ESQUADRA INDEPENDENTE DE NAVEGAÇÃO TERRESTRE

(E. I. N. T.)

 

Fundada por volta de 1905, por Guilherme Pinto Correia, somente em 1908 é que constituiu poderosa "esquadra" devidamente organizada, com o seu "Estado-Maior", fanfarra e armas de guerra (alguns canhões de carregar pela boca e os velhos fuzis pedidos de empréstimo à Guarda Fiscal).

O seu "Estado-Maior" era assim constituído:

"Almirante": o já mencionado Guilherme Pinto Correia;

"Vice-Almirante": … Mesquita;

"Contra-almirantes": Carlos Alberto Pestana e José Nascimento Camacho;

"Capitães-de-mar-e-guerra": José Crispim Gomes e João da Silva;

"1.ºs Tenentes": Augusto Pinto Correia, Ambrósio Caminata e Ricardo Rodrigues;

"2.ºs Tenentes": Leonel Fernandes Silva, Francisco Rodrigues Junqueira, Raul Pereira Brazão e Manuel Damião Teixeira;

O seu "quartel-general" situava-se na Quinta das Fontes, à Rua Imperatriz D. Amélia.

A artilharia móvel era constituída por 2 canhões de campanha, havendo mais 8 canhões nas respectivas fragatas (3), couraçados (4) e canhoneira (1).

O seu "efectivo bélico" atingiu 120 homens, no máximo da sua força. Os uniformes, como os demais, eram copiados da Marinha.

Possuíam também um "capelão", um "oficial-médico" e um código de sinais por bandeiras da autoria de Armando Pinto Correia.

Era a mais pequena, em número e importância "bélica", das três organizações "navais". No entanto era a única que possuía dois "Contra-Almirantes"!


EPISÓDIOS

 

Obviamente, dada a natureza das "esquadras", são conhecidos alguns episódios curiosos e, sobretudo cómicos, acerca das mesmas. Para além das habituais confusões e das continências que os soldados e recrutas do Exército faziam normalmente ao passarem por qualquer "oficial" das esquadras...

A seguir constam três dessas ocorrências, integralmente reproduzidas da obra da autoria de César Pestana "Coisas da Madeira - As Esquadras de Navegação Terrestre" (publicada em separata do Jornal da Madeira em 1968).

1.º EPISÓDIO

Quando numa bela manhã de Junho de 1901, os Reis D. Carlos e D. Amélia, de visita à Madeira, foram a passeio, até à pitoresca freguesia do Monte, ficaram agradavelmente impressionados, ao ser-lhes prestadas honras militares no Largo da Fonte, por uma lustrosa Companhia de Marinha, rigorosamente alinhada e impecavelmente uniformizada, com suas vistosas fardas e galões dourados brilhando ao sol.

O Rei perguntou então ao Governador, que o acompanhava, a que unidade de Marinha pertencia aquela esplêndida formação.

O interpelado, atrapalhadíssimo, teve muita dificuldade em explicar a sua Majestade que se tratava apenas de uma "esquadra submarina de navegação terrestre"...! D. Carlos não gostou nada da brincadeira, ordenando a imediata dissolução daquela farsa, que se prestava a confusões. Todavia, as esquadras reapareciam em público pouco tempo depois, tendo subsistido até ao começo da primeira grande guerra mundial.

 

2.º EPISÓDIO

Uma ocorrência que ia tendo sérias consequências diplomáticas foi o caso passado com o navio-escola da marinha de guerra francesa "Melpomene", do comando do capitão Davioud.

Quando esta fragata de guerra, certo dia, abandonava o nosso porto do Funchal, após uma visita de cortesia, e navegando já a três milhas da costa, foi surpreendida por três tiros de bombarda e respectiva sinalização, intimando-a a parar e a retroceder, o que fez com inusitado espanto.

Tratava-se, afinal, de simples brincadeira dum "oficial" da "Submarina", que da sua residência sobranceira ao forte de S. Tiago se lembrara de disparar a sua bombarda, para pregar uma partida aos franceses…

 

3.º EPISÓDIO

Uma peripécia que ia tendo consequências graves, foi a que se passou com o "Capitão-de-mar-e-guerra" da "Esquadra Submarina", João Frederico Rego, ao tempo cônsul do Peru nesta ilha.

Frederico Rego regressava a casa certa madrugada, depois de tomar parte numa festa rija, de confraternização do "Estado-maior", onde os licores tinham sido abundantes. Vinha rigorosamente fardado, exibindo sua comprida durindana. Ao aproximar-se da sua residência, à esquina da Rua Latino Coelho, viu uma formação inimiga, de possíveis tropas desembarcadas, avançando camufladamente sobre a cidade. Não hesitou. Desembainhou a espada e avançou resoluto para os invasores, começando a acutilá-los. Os "inimigos" eram, porém, um inofensivo e numeroso magote de camacheiras que se dirigiam ao mercado com seus cabazes de verduras à cabeça…!

Vendo-se as pobres camponesas em perigo de vida, largaram os cestos e fugiram; e as que não puderam fugir, tomando o agressor por um oficial inglês, ajoelharam-se, bradando implorativas:

- "Sir", por favor não nos mate!

Foi necessária a intervenção da senhora Rego, que surgiu então à janela, para dissuadir o "herói" de que não se tratava de inimigos, mas sim de inofensivas e pobres camacheiras...

 


O "NAUFRÁGIO" DAS ESQUADRAS

 

Assim como o "enxame" de senhores capitães, tenentes e alferes das milícias e ordenanças, acabou contribuindo para o golpe mortal de tais instituições, idêntica circunstância se verificou com as famosas "Esquadras de Navegação Terrestre". Apesar destas serem organizações puramente particulares e desportivas, funcionando à margem de qualquer disposição legal (ainda que protegidas pelas autarquias locais…).

Efectivamente, nos últimos anos das suas existências, começou a surgir do seio dos respectivos "estados-maiores" um problema grave, de difícil solução. Foi o caso das promoções. Como a maioria dos componentes eram os burgueses e as pessoas mais categorizadas da comunidade de então, e não haviam perigos de guerra, as promoções verificavam-se rapidamente para o que os empenhos, as influências (as cunhas!) não deixavam de actuar em todas as oportunidades.

Todos queriam ser "oficiais" ou "oficiais superiores"! Disputavam-se os galões. Chegaram-se a comprar patentes. Resultado: em dada altura os "almirantados" viram-se em face duma terrível situação de facto: haver mais "oficiais superiores" do que "marinheiros"…!

Quando, finalmente, rebentou a guerra de 1914 e a coisa prometia não ser para brincadeiras, o entusiasmo começou a decrescer... E foi até com grande alívio que os respectivos "estados maiores" aceitaram a "capitulação" e "depuseram as armas", ao serem os respectivos "almirantes" convidados, pelo Comandante Militar da Madeira, Coronel Alencastre, a "desmobilizarem", nas vésperas da entrada do nosso país no conflito mundial.

Não se poderá dizer, à primeira vista, que as famosas "esquadras" tivessem tido um fim muito heróico… A "marinhagem" que na paz se mostrara tão aguerrida, recolhia agora prudentemente, num momento crítico para a Nação, numa altura em que a Pátria tanto carecia dos sacrifícios e da abnegação de todos os seus grandes filhos...

As "esquadras" tiveram graça e foram originais. Divertiam inofensivamente. Ocupavam os ócios dos rapazes numa época em que escasseavam actividades para os ocupar ou divertir. Até lhes incutia hábitos de respeito e disciplina, graças à posição social, respeitabilidade e idade de alguns dos seus membros. Nunca se tornaram positivamente burlescas, apesar da extrema fantasia da sua natureza e, até, dos seus nomes.

E foi assim que durante cerca de três décadas as gentes do Funchal viveram um período de animação sem par, um tanto burlesca, mas a todos os títulos divertida e inofensiva, algo que, de certa forma, caracteriza a boa índole dos madeirenses. Pelo menos naquele tempo, sabiam divertir-se com gosto.

Como era possível a existência de semelhantes "organizações" sob os olhos das Autoridades Militares da ilha? Coisas daqueles tempos...


ASSOCIAÇÃO "NAU SEM RUMO" - DESCENDENTE DAS ESQUADRAS DE NAVEGAÇÃO TERRESTRE

 

A partir de 1914, a guerra conduzirá ao apagamento das Esquadras de Navegação Terrestre. Acabou o aparato de rua e o movimento em torno dos mastros e miradouros transferiu-se para espaços recatados. As associações de boémios assumem este carácter interior, por vezes fechado e elitista. A grande aposta ficou para a mesa e os jogos de fortuna e azar que ajudavam a passar os fins de tarde e a noite. A Associação Nau sem Rumo ganhou dimensão a partir da década de trinta do século XX, retomando este espírito das "esquadras", agora transferido para dentro de portas e tendo como palco a mesa e o bacalhau como o inseparável amigo.

É desconhecido o momento exacto da fundação da Nau Sem Rumo. Os primeiros estatutos são de 27 de Maio de 1935, mas a Associação existia há muito tempo. A história testemunha que o grupo inicial de boémios que, sem rumo, deambulavam pelos bancos da avenida Arriaga, rapidamente encontrou a Nau. Durante muito tempo, esta não teve poiso certo, “vagueando” por algumas ruas da cidade. Em 1945, parece ter-se encontrado o "rumo", "varando" definitivamente na Rua 31 de Janeiro, onde foi inaugurada a nova sede, a 27 de Janeiro, onde permanece, ainda hoje. O acto de inauguração foi um momento importante na vida da Associação, contando com a participação das mais importantes individualidades da ilha. De entre estas, podemos destacar: Dr. Fernão de Ornelas (Presidente da Câmara do Funchal), Dr. Félix Barreira (Secretário-geral do Governo Civil), Comandante João Inocêncio Camacho de Freitas (capitão do Porto), Eng. António Egídio Henriques de Araújo (Vice-presidente da Junta Geral), Dr. Humberto Pereira da Cost (Director da Alfândega) e Fernando Rebelo Andrade (Director da PIDE).

A uma sede juntou-se um novo fulgor para a Nau que a projectaria para uma posição de relevo na sociedade funchalense dos anos cinquenta e sessenta. O prestígio da Nau, na sociedade madeirense, era inegável, estando plenamente expresso no comentário do Visconde do Porto da Cruz em 1952: Ao contrário do que o seu nome indica, tem o seu rumo perfeitamente orientado, sendo um centro de recreio de “bons vivants”, onde há a melhor e mais especializada cozinha que satisfaz os mais requintados epicuristas e além disso trás o propósito de desenvolver uma interessante obra social de assistência e de expansionismo regionalista.

A admissão dos sócios obedecia a requisitos especiais. Sendo esta uma associação de boémia masculina, só eram admitidos candidatos do sexo masculino. As mulheres tinham entrada, apenas como convidadas, ou na condição de sócios honorários. Esta categoria estava reservada a individualidades que, pelo mérito ou serviços prestados à Nau Sem Rumo, adquiriam esta possibilidade mediante proposta do "Almirante" e do "Conselho do Estado-Maior", a apresentar em reunião deliberativa. O "Almirante", ouvido o "Conselho de Estado-Maior", podia, ainda, nomear "Oficiais Correspondentes", em qualquer país, Estado ou cidade, aquelas pessoas de reconhecida categoria e idoneidade comprovada.


Fonte (principal): "Coisas da Madeira - As Esquadras de Navegação Terrestre", obra da autoria de César Pestana, publicada em separata do Jornal da Madeira em 1968.


A MULTI-CACHE

 

Volvido um século sobre o desaparecimento das famosas "esquadras", ainda subsistem na Madeira alguns vestígios físicos dessas gloriosas "armadas" do passado. Tais como, por exemplo, os seguintes:

Quinta das Faias (Camacha)

Jardim Tropical Monte Palace (Monte)

Conforme anteriormente referido, na época, rara era a casa, quinta ou vila das famílias mais abastadas da sociedade madeirense que não constituísse uma "fragata", uma "canhoeira" ou uma "corveta". As 4 stages que compõem esta multi-cache são, logicamente, alguns desses locais.

No entanto, julgo que mais alguns desses elementos ainda possam existir, tais como os seguintes, os quais, muito provavelmente, também faziam parte do "sistema belicista":

Quinta Calaça (actual sede do Clube Naval do Funchal)

Quinta Penha de França (Funchal)

Quinta Vigia (Funchal)

Casas na Rua Conde Carvalhal (Funchal)

Casa abandonada na Rua Silvestre Quintino de Freitas (Funchal)

Quinta dos Reis (Livramento - Funchal)

Não obstante dos meus esforços, não consegui confirmar que, efectivamente, estes símbolos estão relacionados com as "esquadras" (para além da obra de César Pestana anteriormente mencionada, actualmente é escassa a informação sobre o fenómeno). Caso o caro geocacher consiga confirmar que algum destes vestígios está (ou não) relacionado com as "esquadras", esclareça-nos! Ou caso tenha conhecimento de outros vestígios, por favor, partilhe-os!

Todas as stages a visitar situam-se em locais de acesso público permanente (24 horas por dia). No entanto, não aconselho que faça esta multi-cache de noite, sobretudo face ao solicitado na stage 2 (é necessário aferir a cor de um mastro a uma distância de cerca de 60 metros).

No final da listing existe um geochecker, onde poderá confirmar a sua solução relativa à stage final. Atendendo a que as stages distam significativamente umas das outras, e de modo a que possa planear o seu itinerário da forma que melhor lhe convier, posso desde já adiantar que a stage final desta multi-cache encontra-se próxima da stage 4.

Em relação ao container, peço-lhe que seja discreto. E tenha o cuidado em deixar tudo como encontrou ou até melhor, se possível! Obrigado!


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Additional Hints (Decrypt)

[PT] Ab trbpurpxre [EN] Va gur trbpurpxre

Decryption Key

A|B|C|D|E|F|G|H|I|J|K|L|M
-------------------------
N|O|P|Q|R|S|T|U|V|W|X|Y|Z

(letter above equals below, and vice versa)