Para efeitos de preservação e salvaguarda do património natural e cultural das fajãs da ilha de São Jorge, o conceito de fajã foi objecto de consagração legal, tendo o parlamento açoriano, através do Decreto Legislativo Regional n.º 32/2000/A, de 24 de Outubro, definido que se entende por fajã toda a área de terreno relativamente plana, susceptível de albergar construções ou culturas, anichada na falésia costeira entre a linha da preia-mar e a cota dos 250 m de altitude.
Devido à sua origem, a geomorfologia das fajãs ganha em geral um carácter de pronunciado anfiteatro, de extensão e inclinação muito variáveis, em geral com o declive aumentando rapidamente com a aproximação do sopé da falésia ou encosta. No caso das fajãs litorâneas, a encosta que as delimita pelo lado de terra é em geral uma arriba fóssil que mantém o seu carácter de falésia costeira, incluindo a flora efauna que lhe são típicas.
Pelas suas características climáticas, particularmente quando voltadas para sul ou sueste, e pela abundância de recursos naturais, aliada à facilidade de acesso ao mar, já que virtualmente todas as fajãs têm o seu portinho, as fajãs foram locais de fixação inicial dos colonizadores, tendo sido a partir delas que irradiou o povoamento das terras altas do interior.
A diferenciação climática é tal que nas fajãs costeiras do sul da ilha de São Jorge, em especial na Fajã de São João, existem microclimas onde, com plantas trazidas do Brasil, se fizeram pequenas plantações de cafeeiro, os quais produzem cerca de 50 kg/planta/ano de excelente café, seguramente o local de mais alta latitude onde aquela planta cresce.
TIPOS DE FAJÃS
- Fajãs costeiras – fajãs em contacto directo com o litoral.
- Fajãs de delta lávico – fajãs criadas quando as escoadas de lava avançam sobre o mar, provocando o recuo da linha de costa. Estas fajãs, em geral muito resistentes à erosão do mar por serem constituídas por grandes massas rochosas compactas e sem fissuração apreciável, são em geral delimitadas por costas abruptas, angulosas, fortemente recortadas, com grandes calhaus no seu sopé. Os solos, quando não tenha havido recobrimento por materiais de projecção ou derrocadas posteriores, são em geral esqueléticos. À superfície destes deltas podem ocorrer pseudo-crateras ou cones litorais e a erosão da frente da escoada ou uma drenagem posterior conferem-lhe frequentemente um aspecto digitado. São frequentes os arcos rochosos costeiros e as grutas marinhas resultantes da infra-escavação pela erosão por acção do mar.
-
- Fajãs de talude (ou fajãs detríticas) – são fajãs criadas pela acumulação de materiais resultantes do desmoronamento das encostas sobranceiras. Estas fajãs tendem a ser mais aplanadas e, por serem constituídas por materiais soltos, facilmente sujeitos ao transporte pelas ondas, têm em geral costas de formas suaves e quase rectilíneas, com praias de calhau rolado de dimensão variável. Nas costas mais expostas à ondulação, em geral as viradas a norte, formam-se por vezes cordões de calhaus rolados que conduzem ao aparecimento de formações lagunares (como acontece na Fajã da Caldeira de Santo Cristo). Os solos destas fajãs são em geral muito férteis, embora as mais perigosas para habitação humana, dada a recorrência dos desmoronamentos. Os grandes terramotos tendem a formar novas fajãs deste tipo, como aconteceu profusamente no grande sismo do Mandado de Deus, na metade leste de São Jorge.
|