O VELHO BOTICÁRIO
O velho boticário entra em sua sala e senta-se na cadeira que o acompanha a tantos anos... Olha pela janela e vê um lindo dia lá fora e lembra-se com saudades dos tempos em que seu trabalho era árduo e reconhecido por todos, foram tantos tratamentos tantas formulas tantas experiências mal sucedidas... Tantas descobertas...
Lembrou do tempo de faculdade quando em uma experiência misturou vanádio com estrôncio e quase destruiu o laboratório, e quando descobriu os efeitos da morfina e as propriedades da penicilina, anos mais tardes se sentiu como um alquimista extraindo o zircônio em sua forma bruta e lapidou em uma bela pedra e presenteou a sua namorada com um lindo anel de noivado que lhe roubou o oxigênio do ar, ah, sua doce namorada, como ele se sentiu feliz ao ver o brilho no olhar dela, brilho que hoje já não mais existe, sua face cansada já não tem mais o mesmo viço....rapidamente muda seu pensamento de direção e lembra com ternura dos filhos correndo por entre os balcões derrubando tudo que encontram pela frente, certa vez, seu mais novo derrubou uma bandeja que continham uma nova formula que ele estava testando para tratamento da calvície, ele havia lido que se misturasse em doses certas, agua, sal marinho, paládio e malva, e aplicasse em doses certas também, os cabelos não só parariam de cair como nasceriam novamente.Foram meses de testes sem sucesso e quando estava quase conseguindo, pronto, foi tudo pelos ares... ah seus filhos... seu mais velho era o único que se interessava pela farmácia, gostava das experiências, das misturas, vivia recolhendo ervas pelo quintal, fazendo chás e administrado aos clientes da farmácia, alguns eram doces e perfumados, mas outros eram amargos como fel, e se bem não fizesse, mal também não fariam.
Uma manhã seu filho do meio estava doente e não foi a escola, como sua esposa tinha que entregar umas encomendas o menino ficou a seu encargo e em um dado momento o garoto estava muito quieto em um canto da farmácia, então ele como pai zeloso foi dar uma espiada para ver o que estava acontecendo e quando se aproximou viu que o menino tentava enfiar umas pílulas na boca do gato, pegando o vidrinho da mão do garoto, leu no rótulo: Rubídio, era o componente principal de um medicamento que ele tinha que preparar, remédio encomendado pela dona Carlota, que desespero, será que o gato havia engolido alguma cápsula????
Em seus pensamentos divagou mais um pouco e lembrou-se de quantas crianças ajudou a curar, quantos enfermos ajudou a salvar, quantas madrugadas passou acordado velando seus pacientes e depois de tantos anos seu Hélio se vê cansando, seus conhecimentos já não valem mais nada, suas poções não valem nem um níquel se quer, sua farmácia já a muitos anos não abrem mais as portas, os medicamentos modernos substituíram todas aquelas ervas, chás medicinais, poções milagrosas, só lhe resta agora viver das lembranças e dos remédios comprados nas farmácias vizinhas.
Verifique sua solução 