INTRODUÇÃO
A ilha de São Jorge apresenta-se como uma extensa cordilheira vulcânica de natureza basáltica s.l., com cerca de 54 km de extensão e orientação geral WNW-ESE, que se caracterizada, do ponto de vista morfo-vulcânico, por duas regiões distintas: 1) a Oeste, uma zona de relevo acidentado, de vulcanismo recente e com cones vulcânicos bem preservados, responsáveis pela emissão de inúmeras escoadas lávicas que originaram frequentemente fajãs lávicas na base das falésias costeiras; 2) a zona Leste, mais antiga, de morfologia mais suave, rede de drenagem mais evoluída e encaixada e frequentes fajãs detríticas na base das arribas, que retratam uma ação mais prolongada dos processos erosivos e de alteração dos materiais vulcânicos.
Não obstante a natureza basáltica das suas formações geológicas, a ilha de São Jorge evidencia uma importante multiplicidade de paisagens, estruturas e produtos vulcânicos, que constituem importantes ex-libris da paisagem açoriana e fazem parte integrante da vivência jorgense. Como exemplos da geodiversidade da ilha de São Jorge merecem especial destaque os alinhamentos vulcano-tectónicos de cones monogenéticos, as imponentes falésias costeiras da ilha e as suas fajãs.
Cordilheira Vulcânica Central
A ilha de São Jorge formou-se por diversas erupções basálticas ao longo de alinhamentos tectónicos de orientação ONO-ESE. Atualmente este vulcanismo fissural está bem patente na cordilheira vulcânica central expresso em alinhamentos vulcano-tectónicos de 280 centros monogenéticos, como cones de escória e de salpicos de lava (spatter) e fissuras eruptivas.
CONES DE ESCÓRIAS E CONES DE “SPATTER”
Os cones de escórias são a forma vulcânica mais comum na ilha de São Jorge, encontrando-se por toda a ilha mas com especial incidência na sua metade Ocidental, segundo alinhamentos vulcano-tectónicos de orientação geral WNW-ESE.
Trata-se de vulcões monogenéticos, ou seja, edificados no decorrer de uma única erupção vulcânica, na sua maioria do tipo estromboliano e de baixa a moderada explosividade (Nunes, 1998), a qual dá origem a um cone piroclástico (com cinzas, lapilli e blocos ou bombas) usualmente de contorno circular, vertentes inclinadas e rectilíneas e geralmente truncado no topo por uma cratera. Estas erupções têm usualmente associados episódios efusivos, com a emissão de escoadas lávicas mais ou menos volumosas.
Os cones de salpicos de lava (ou de spatter) são comparativamente mais raros na ilha de São Jorge e testemunham acumulações piroclásticas de material de textura escoriácea que, dado o seu estado plástico ao atingirem o solo, se apresentam soldados (welded) ou aglutinados entre si. A edificação destes cones ocorre essencialmente na dependência direta de fissuras eruptivas ou de erupções do tipo havaiano, predominantemente efusivas, como foi o caso das bocas eruptivas associadas ao Mistério da Queimada, da erupção de 1580.
Estão identificados atualmente cerca de 150 cones de escórias e de spatter na ilha de São Jorge, em maior quantidade na zona axial da cordilheira vulcânica central onde, concomitantemente, se localizam os principais acidentes tectónicos que condicionam a sua formação. A elevada concentração de cones vulcânicos nalguns sectores desta cordilheira, sobrepondo-se e interferindo-se mutuamente, dificulta por vezes a sua identificação e a respetiva análise morfométrica. O mesmo acontece quando os cones vulcânicos apresentam-se com cratera múltipla e quando os cones estão implantados em vertentes íngremes, assumindo, por isso, a respetiva base um contorno assimétrico.
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