Montemuro, o Monte do Muro, também nomeado Monte Vargano ou Monte Gironzo, em documentos do séc. X, é talvez a serra de maior imponência do território continental depois da Estrela. A sua cumeada, que marca a separação de águas entre os rios Douro, a Norte, e Paiva, a Sul, descreve dois alinhamentos quase rectos formando um ângulo, voltado a Norte, em cujo interior se encaixa o rio Bestança, numa falha geológica, em direcção ao Douro.
A condicionar esta passagem fundamental encontram-se restos da vasta e espessa muralha, de pedra bem arrumada, configurando uma cerca, de antiguidade ainda não estabelecida. Este monumento emblemático de Montemuro, o muro que lhe dá o nome, pode observar-se ao longo da linha de fronteira entre os concelhos de Castro Daire e Cinfães, próximo do acesso ao Parque Eólico de Pinheiro. Aqui, na portela, existe uma ermida, do Senhor das Portas, com cerca protectora.
Apesar de inóspitos em boa parte do ano, com um clima adverso à permanência humana, excepto no estio, nos cimos de Montemuro, em cristas rochosas ou nos vastos altiplanos que o formam, encontram-se inúmeros vestígios materiais da presença sazonal do homem, desde a Pré-História Recente até aos tempos modernos.
Entre os mais antigos contam-se as primeiras arquitecturas em pedra de toda a região, em particular, sepulturas pré-históricas sob montículos circulares constituídos por pedras e terra (mamoas ou pequenos tumuli), pedras isoladas, fincadas como marcos (menires) e recintos sagrados (cromeleques). A escavação de algumas destas mamoas revelou câmaras funerárias (dólmens) cujos esteios ostentam magníficos e variados motivos de arte esquemática, pintada e gravada, com destaque para representações da figura humana.
Os vestígios mais recentes repartem-se por uma diversidade de construções, também em pedra, relacionados com a agricultura e o pastoreio de altitude, onde se incluem muros ou muretes, de pedras sobrepostas ou fincadas no solo e encostadas entre si, definindo extensos limites entre propriedades (baldios) ou simples cercados, para gado ou cultivo, e ainda, cavidades naturais, dissimuladas no fraguedo, que denotam uso humano, ou pequenos abrigos individuais apoiados em palas ou abas rochosas.
Pequenas e grandes construções, sendo que as maiores, utilizando muitas vezes blocos descomunais, ciclópicos, simplesmente colocados no solo, mais parecem brincadeiras de gigantes tal o esforço físico que exigiu a sua deslocação. Testemunhos afinal de outros tempos tão remotos da vivência actual, embora próximos na escala do tempo, em que a necessidade extrema de sobrevivência e tanto esforço obrigava.
A vegetação não tem pés para andar e as pedras são marcos do tempo!
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