Estuário
Parte de um rio antes da foz, em geral com a forma de funil. É uma zona afetada pelas marés, onde se mistura água doce e água salgada. Durante a maré vazia a corrente do rio e a descida das águas contribuem para a erosão do estuário. A formação de um estuário pode também ocorrer devido a um abatimento local da costa.
Quando um rio atinge um lago ou o mar, isto é, quando atinge o seu nível de base, forma a desembocadura. Se esta ocorre num mar com correntes costeiras e com correntes de maré importantes, forma-se um estuário. Alguns estuários resultam da invasão pelo mar do vale do curso do rio, originando rias que são verdadeiros braços de mar na maré alta e um imenso lodaçal durante a maré baixa.
Além das substâncias em solução, os rios transportam para o mar quantidades significativas de areias, lamas, etc. Na embocadura devido à diminuição da velocidade da corrente, às ondas de maré e à diferença de densidade entre as águas doces e marinhas, as areias e argilas em suspensão precipitam. Por outro lado, a diferença de carga iónica provoca a floculação das partículas mais finas.
Esta sedimentação atulha os estuários dos grandes rios que cavam um canal médio em geral navegável, com grande custo. O depósito essencial dos estuários é a vasa. É um sedimento complexo constituído por uma fase inerte, formada principalmente por pó e areias quartzosas ou calcárias (menos de 20% do total; de 20% a 50% numa vasa arenosa) procedentes do rio e do mar, e uma fase coloidal ativa que serve de ligação à anterior. Esta fase é composta por 5 a 10% de matéria orgânica trazida do continente (pólen, húmus, etc.) ou do mar (Diatomáceas, algas, etc.) mas sobretudo do próprio meio do estuário. Apresentam também ferro (3% em climas temperados, 50% nas zonas tropicais ricas em laterite) sobre a forma de hidróxido e sulfuretos. O meio intersticial líquido e os seres vivos desempenham um grande papel, em particular as bactérias que intervêm ativamente na sedimentação do ferro.De uma parte e outra do canal médio que tem sempre água, mesmo durante a maré baixa, a vasa deposita-se sobre os bancos de areia e as margens com pendente suave formando um perfil convexo. O fecho dos estuários quando o débito é muito baixo deve-se mais à sedimentação marinha (pode atingir 50 toneladas por maré) do que os sedimentos fluviais.
Marés
A maré tem como causa a atracção gravitacional do Sol e da Lua. A influência da Lua é bastante superior, pois embora a sua massa seja muito menor que a do Sol, esse facto é compensado pela menor distância à Terra. Matematicamente a maré é uma soma de sinusóides (ondas constituintes) cuja periodicidade é conhecida e depende exclusivamente de factores astronómicos.
De um modo geral, podemos dizer que a maré sobe quando das passagens meridianas superior e inferior da Lua. Isto é, temos preia-mar (maré cheia) quando a Lua passa por cima de nós e quando a Lua passa por baixo de nós, ou seja, por cima dos nossos antípodas.
As preia-mares sucedem-se assim, regularmente, com um intervalo médio de meio-dia lunar (aprox. 12h 25m) o que corresponde matematicamente à constituinte lunar semi-diurna (M2); tal facto é expresso pelo povo que refere que “a maré, no dia seguinte, é uma hora mais tarde” (na realidade aprox. 50m mais tarde). Por sua vez, o intervalo de tempo entre uma preia-mar e a baixa-mar seguinte é, em média, 6 h 13 m. No entanto, o mar não reage instantaneamente à passagem da Lua, havendo, para cada local, um atraso maior ou menor das preia-mares e baixa-mares.
O intervalo de tempo entre a passagem meridiana da Lua e a preia-mar seguinte é o chamado 'lunitidal interval' (em rigor, 'high water lunitidal interval'). Actualmente, já estão a ser comercializados relógios em que esse valor é pedido, para que eles possam fornecer uma previsão grosseira da maré. Embora esse valor seja variável ao longo do tempo, em termos médios esse atraso é cerca de 2 horas em Portugal Continental e inferior a 30 minutos na Madeira e nos Açores.
Outro aspecto importante a ter em conta é o fenómeno quinzenal da alternância entre marés vivas e marés mortas; este fenómeno, matematicamente explicado pela constituinte S2 (solar semi-diurna), decorre do efeito do sol como elemento 'perturbador'. Com efeito, quando o Sol e a Lua estão em oposição (Lua cheia) ou conjunção (Lua nova), a influência do Sol reforça a da Lua e ocorrem as marés vivas (matematicamente as constituintes somam-se). Por outro lado, quando o Sol e a Lua estão em quadratura (Quarto crescente e Quarto minguante), a influência do Sol contraria a da Lua e ocorrem as marés mortas (matematicamente as constituintes subtraem-se).
Regra geral, as amplitudes de marés vivas em Portugal Continental são cerca de 1,5 m. Isto é,o mar sobe e desce 1,5m em relação ao nível médio. Em marés mortas, a amplitude da maré é da ordem dos 70 cm. Na Madeira temos uma amplitude de 1 metro em marés vivas e 50 cm em marés mortas; nos Açores temos 70 cm em marés vivas e 30 cm em marés mortas. Estes valores ilustram um facto conhecido: a amplitude da maré diminui quando nos afastamos da costa. Com efeito, sabe-se que a maré se torna praticamente nula nas zonas centrais das grandes bacias oceânicas.
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