Casa da Floresta
Em locais estratégicos, normalmente rodeados de floresta e de tudo o que de mais natural existia, foram construídas em tempos áureos as casas florestais.
Durante décadas, os Guardas-Florestais (atualmente incluídos na GNR) habitavam juntamente com as suas famílias nestas casas tão bem projetadas, construídas e localizadas.
Ali viviam e enquanto o pai trabalhava percorrendo toda a sua área geográfica denominada de Cantão, importunando os prevaricadores e conversando com os restantes moradores. A esposa ainda cultivava a horta e fazia a lida de casa, madrugando e despachando os filhos para a escola. Em alguns casos, ainda sobrava tempo para criar uns galos, coelhos e até o porco. As lareiras fantásticas que estas casas possuíam eram um convite à produção de fumeiro, que sabia tão bem comê-lo junto às brasas…
Este fumeiro era defumado com a lenha de árvores que secavam e que existiam nas imediações da casa, bem como de giesta que teimava em invadir estas áreas, mas não conseguia
Ninguém conhecia melhor a área do que o guarda-florestal, pois passava diariamente nos caminhos, via o coelho correr, a árvore crescer, o fogo a surgir e até o criminoso a fugir.
Como eram homens à antiga, tinham rigor e funcionavam como “gestores” dessas áreas, embora sujeitos às ordens dos Serviços Florestais, tinham autonomia para deixar que um pobre cortasse dois pinheiros que o vento ou a neve arrancou e os transportasse para casa para aquecer os seus filhos.
Desta forma, satisfaziam-se as vontades e necessidades da população e mantinham-se as florestas mais limpas.
As próprias pragas florestais como escolitídeos, nemátodo, ou mesmo a processionária, eram controladas indiretamente pelo povo e pelo guarda-florestal.
Como esta autoridade se deslocava a pé (e não tinha ajudas de custo, subsídio de deslocação, nem motorista), para além de não poluir o ambiente, o “potencial prevaricador” estava constantemente com receio de ser surpreendido pelo conhecimento e astúcia destes homens.
Também na fiscalização da caça e da pesca, o guarda-florestal podia aparecer a qualquer momento e isso causava algum incómodo a quem estivesse a transgredir. O guarda, dada a sua simples natureza, tanto poderia aparecer e apreender todo o material de caça/pesca, caso a situação a isso obrigasse, como poderia ajudar o caçador ou pescador a acabar com a sua merenda e cantil de vinho.
Retirado de: http://www.pqjornal.com/index.php?option=com_content&view=article&id=439:o-abandono-das-casas-flore