As Casas
Há uma quinta na Ilha Terceira, cujo nome advém de uma aldraba do séc. XVIII que ainda hoje ornamenta o seu portão principal, situada a 5km da cidade classificada pela UNESCO como Património Mundial – Angra do Heroísmo –, que conheceu o seu auge durante o ciclo económico da laranja.
Hoje repõe um ambiente rural terceirense genuíno, a começar pelas construções e adereços, até á gastronomia, meio envolvente de usos, costumes e aspectos festivos.
A quem a visita, é oferecida a verdadeira ambiência de uma casa viva ao jeito do correr dos tempos, desde o povoamento, onde se pretende repor com rigor um ambiente autêntico, a começar pela construção e mobiliário do mais genuíno e da maior qualidade, fruto de um trabalho de pesquisa e levantamento dos saberes tradicionais de arquitetura, decoração e restantes equipamentos.
Na quinta existe um espólio notável de artes e ofícios tradicionais em vias de extinção, é dada uma mostra etnográfica que vai às raízes do povoamento e é ainda oferecida uma gastronomia com o melhor do que sempre se fez na Ilha Terceira, sendo de notar que todos os produtos agrícolas produzidos no local são de origem biológica e consumidos na própria Quinta.
Mas centremo-nos na evolução da habitação, desde o povoamento. Eis uma breve panorâmica:
Não é difícil de acreditar que os primeiros humanos a chegar à ilha procuraram refúgio em grutas ou construíram precários abrigos com ramos de árvores.
Já no dia seguinte, elaboraram um abrigo mais consistente, feito com canas da terra, cujas folhas grossas e largas proporcionavam uma cobertura minimamente eficaz. A experiência aconselhou a dobrar a cobertura, para impermeabilizar melhor, ao mesmo tempo que foram sendo colocadas pedras, para nivelar e levantar um pouco do chão, protegendo-se, assim, melhor das águas pluviais.
O lento passar dos dias viu paredes crescer, para a habitação ficar mais desafogada e um teto bastante inclinado, com cobertura de palha. Só que a origem vulcânica era recordada, de tempos a tempos, por abalos sísmicos e as relativamente altas paredes das empenas mostraram ser perigosas nessas situações. Foi o mote para se pensar em tetos de 4 águas.
As casas aglomeravam-se, geralmente, perto umas das outras por motivos de proteção e de gestão de recursos comunitários, como um forno e uma pia que tanto servia para lavar roupa como para pisar uvas.
Neste complexo etnográfico, no que respeita ainda à habitação, é possível observar, igualmente, a evolução das portas, janelas, divisórias interiores, mobiliário, técnicas de construção e outros aspetos curiosos.
As casas e as suas comodidades iam sendo melhoradas à medida das disponibilidades dos povoadores, pois o tempo era prioritariamente orientado para garantir alimentos para a sobrevivência.
Numa das habitações mostram-se os 4 cantos da casa, a organização interior primária, com o canto de cozinhar, o canto de comer, o canto de dormir e o canto de guardar.
Já na casa seguinte existe um separador em canas, dividindo a casa em 2 quartos (a cozinha e o quarto de dormir).
Este modelo evoluiu para uma habitação com 2 separadores em madeira, pelo que a casa passa a ter 3 divisões: cozinha, meio da casa e quarto de dormir.
Com as novas técnicas de construção, com mais disponibilidade de tempo, com mais riqueza entretanto gerada, a habitação ganha novas formas de comodidade e segurança, evoluindo até à casa do lavrador abastado.
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