Segundo alguns autores teria tido origem nesta freguesia a Ordem
Militar de S. Julião do Pereiro, que mais tarde passou para a vila
espanhola de Alcântara, mudando a sua designação para Ordem Militar
de Alcântara. De grande antiguidade e remoto povoamento, Pereiro
apresenta várias sepulturas antropomórficas como certidão da sua
idade. Uma delas, situada no lugar de Vale de Carvalho, encontra-se
classificada como “património de interesse
nacional”.
De grande interesse é também a igreja paroquial dedicada a S.
Brás. Edificada durante o século passado, conserva um tríptico
muito repintado, sobre madeira, provavelmente do século XVII. O
púlpito, de granito, do tipo renascença filipina, assenta sobre uma
coluna estriada. Na sacristia guarda-se um grupo escultórico de
granito pintado, seiscentista, figurando Cristo na cruz com a
Virgem a seus pés. Referência especial merece igualmente a Capela
de S. Sebastião, sita no lugar de Gamelas, antiga freguesia
independente. Templo de construção seiscentista, conserva uma
verdadeira preciosidade: um crucifixo de bronze, gótico, dos
séculos XIII - XIV. Em Mangide, outro dos lugares da freguesia,
ergue-se a Ermida de Nossa Senhora da Ajuda, edificada no século
XVII e reconstruída em 1981. No seu interior há apenas um altar e,
pendente da parede sobre uma peanha de granito, a imagem da Virgem,
moderna e obra da célebre Casa Fânzeres, de Braga. Templo de
pequenas dimensões, atrai anualmente grande número de devotos que
ali se deslocam para venerar a Senhora da Ajuda. Para que todos
possam assistir às cerimónias religiosas, foi construído no
exterior da capela um grande alpendre e sob este um altar em pedra.
Implantada em local de beleza paradisíaca, é a capela considerada
uma das principais atracções turísticas da freguesia, pois a sua
área envolvente reúne todas as potencialidades de zona de
lazer.
Uma lenda relaciona a erecção do templo com uma batalha ali
travada entre cristãos e mouros. Em “Invocação Nova de um
Culto Antigo”, Ilídio Marta conta que “aqueles, em
número inferior ao dos seus inimigos, estando prestes a ser
vencidos, ao grito de Nossa Senhora me ajude levaram os mouros de
vencida e os desbarataram. Em memória do feito se levantou então no
local da batalha uma ermida em honra de Nossa Senhora da Ajuda,
sequência do “me ajude”, grito de aflição e ao mesmo
tempo de prece à Virgem, para que os não deixasse derrotar. A
lenda, ou tradição, levaram à obrigação que a Câmara de Pinhel
tinha de levar à ermida todos os anos uma procissão em acção de
graças pelo milagre alcançado por aqueles cristãos contra os filhos
de Mafoma”. Batalha importante, considerada um grande feito
de armas, foi aqui travada em 14 de Novembro de 1810. A esse
combate, em que o General Silveira desbaratou os franceses, uns
chamam “de Pinhel”, enquanto outros o denominam
“de Valverde e do Pereiro”. Sabe-se que as unidades
napoleónicas se cobriram com postos avançados estabelecidos ao
longo da ribeira das cabras, desde Carvalhal, na esquerda, até
Pereiro, na direita, observando, por meio de patrulhas, as estradas
Pinhel — Trancoso e Carvalhal — Celorico. O resto do
6.º Corpo formou o bloqueio, e o general Gardanne, com dois
batalhões do regimento n.º 66 e 200 cavalos, avançou para Pereiro.
Como o desenvolvimento da acção não será o que mais nos interessa,
ponha-se em relevo o seu final. O rescaldo da mesma, onde todos
foram heróis, sob o comando desse dinâmico cabo de guerra — o
General Silveira —, foi por este comunicado ao Marechal
Beresford numa carta enviada do “Quartel General do Campo do
Pereiro pelas 4 horas da tarde do dia 15 de Novembro de
1810”. Começava assim: “Ilustríssimo Senhor, ontem
marchei sobre Pinhel, os inimigos se achavam nos povos do Pereiro,
e Gamelas, e Valverde. Esta manhã os ataquei pensando ser a sua
força muito menor; mas apesar de serem seis esquadrões, e três de
lanceiros, tive a felicidade de os bater completamente”. A
documentação referente a esta batalha é deveras numerosa e
deslumbrará quem souber procurá-la. Por não caber nestas breves
linhas, cita-se apenas mais um excerto de outra carta de Silveira,
pelo interesse que tem para a freguesia, onde ele relembra alguns
dos seus feitos: “No dia 14 ... completamente bati e foi
desfeita no Pereiro a divisão inimiga comandada pelo General
Gardanne”. Eclesiasticamente, Pereiro e Gamelas foram curatos
anexos à Igreja de S. Pedro de Pinhel, cujo reitor apresentava os
curas com uma côngrua de 10 mil réis cada um, além do pé de altar.
No Arquivo Paroquial consta uma licença para a benção de uma
capela, datada de 26 de Outubro de 1739: “O Doutor José
Pereira de Sousa de Campos, da vila de Pinhel, casado com D.
Mariana Clara, edificou uma capela na sua Quinta de Mangide, limite
do lugar de Gamelas, para nela colocar a imagem de Nossa Senhora da
Saúde”. O “Cadastro da População do Reino” de
1527 atribui a Pereiro e Gamelas, respectivamente, 62 e 58 fogos.
No início do século XVIII, o Pe. Carvalho da Costa refere “72
visinhos” em Gamelas e 76 no Pereiro. O censo de 1940 referia
570 habitantes em 137 fogos, número em que eram incluídos os
habitantes das povoações anexas de Mangide e de Gamelas.