Contam-se, cá pela aldeia,
Lendas de fadas e moiros,
Encantos, histórias antigas,
Bruxarias e tesoiros.
A da parteira, já velha,
Que, em noite de invernia,
Ouviu baterem-lhe à porta,
- Alguém que não conhecia.
Abriu e um embuçado,
Lhe suplicou a chorar:
- Venha comigo, senhora,
Minha mulher ajudar.
Foram p' Io meio de pinhais.
E sem candeia, nem tocha !
Até que o homem parou
E bateu lá numa rocha.
E logo a pedra se abriu !
Uma porta apareceu ! ...
Pasmada co' a maravilha
A parteira, emudeceu.
Desceram uma escadaria
Fortemente iluminada.
Lá no fundo, linda moira,
Numa cama se encontrava.
E o trabalho foi feito
Com eficácia e carinho.
Pouco depois, já se ouvia
O choro de um rapazinho.
O homem agradeceu
Com muita satisfação
E, em pagamento lhe deu...
Uma saca de carvão !!
E recomendou: - Agora,
Vai esquecer tudo o que viu !
A mulher, nem fala dava,
Enquanto a escada subiu.
|
Nem soube como, de novo,
No pinhal se encontrou.
Tinha a saca de carvão...
Prova de que não sonhou !
Continuava a chover.
E a velhota, já cansada,
Com o carvão foi atirando,
P' ra não ir tão carregada.
E, quando chegou a casa
Extenuada, a parteira,
O pouco que lhe restava,
Arremessou p'rà lareira.
Maldizendo a sua vida,
Foi p'rà cama arreliada.
Porém, na manhã seguinte...
Esse carvão... rebrilhava !
Era oiro, do mais puro !
- E deitei fora os demais!
-Lamentava-se a mulher,
A procurar p' los pinhais.
Mas não encontrou caminho,
Nem porta, nem carvão !...
- Perdi toda esta fortuna !
Gritava em desolação.
Também não mais viu o moiro,
(Nem sei se alguém o verá...)
Mas a rocha, do tesoiro,
No pinhal, 'inda lá está !
E dizem, cá pela aldeia,
Que, quem lá for e rezar,
Em noite de lua cheia...
O tesoiro há-de encontrar !...
In:site da Junta de Fraguesia da Junceira
|