"Num Museu situado
numa encosta da foz do Côa parece ser importante o sentido
afirmativo do seu corpo, quer na leitura da sua relação com a
paisagem, quer quanto à sua natureza tipológica que deve ser
formalizada enquanto massa física, não deixando quaisquer
ambiguidades e equívocos quanto à sua localização.
O desejo de fundir estes factores torna-se explícito no conceito da
intervenção – conceber o museu enquanto instalação na
paisagem. A estratégia é a de trabalhar um corpo desenhado
especificamente para um lugar, promovendo um diálogo íntimo entre
artificial/natural, aumentando deste modo a complexidade temática
da sua composição. A condição acentuada da topografia, para além
das dificuldades que impõe enquanto suporte físico da intervenção,
gera um momento de chegada ao terreno vertiginoso, revelando-se por
isso determinante nas opções a considerar.
A estratégia adoptada propõe ocupar no primeiro momento o terreno,
libertando o restante, evitando a inclusão de acessos de grande
complexidade física e plástica. Esta ocupação será realizada
através da criação de uma plataforma panorâmica (cobertura do
museu) cujo cenário é a esmagadora paisagem dos montes e vales do
Douro. Esta será usada como espaço de chegada, dispondo-se os
diferentes meios de acesso em zonas distintas, de modo a clarificar
e facilitar a distribuição e orientação.
Assim pretende-se potenciar e enfatizar a imponente amplitude de
vistas que caracteriza tão fortemente o sítio, evitando que o
edifício se assuma como obstáculo entre quem chega e a paisagem que
o rodeia.
A forma do corpo é triangular e resulta dum processo de lapidação
ditado pela geometrização abstracta da topografia, uma vez que o
ponto mais alto do terreno (implantação) está entalado entre dois
vales (Vale de José Esteves e Vale do Forno) e abre uma terceira
frente ao encontro dos Rios Douro e Côa.
Há um elemento que estrutura o corpo - a rampa que rompe a massa de
forma contínua, percorrendo todo o programa, desde a plataforma de
chegada até às salas de exposição. Esta fenda descendente conduz o
utente para dentro da densa massa, transportando-o, de modo
gradual, da paisagem intensa, luminosa e infinita até à realidade
interior e escura da sala gruta, que nos remete para um tempo
primitivo.
Este elemento estruturante é dividido em partes, a saber: percurso
simples a céu aberto entre a plataforma de chegada e o espaço do
lobby; o segundo, ainda exterior, o espaço coberto do lobby que
articula as acessibilidades programáticas; por último, a sala de
exposição temporária que fecha o percurso. Para a plasticidade da
matéria do corpo interessa considerar três temas: a massa, a
textura e a sua cor. Das possibilidades analisadas prevaleceram
duas; o xisto por ser um material local abundante e ainda o suporte
escolhido no Paleolítico para o registo das gravuras e o betão
pelas suas características plásticas e tectónicas, mas também por
ser recorrente na paisagem do Douro em construções de médio e
grande porte. Deste modo a proposta resulta numa massa híbrida
– betão com textura e pigmentos do xisto. Para a interacção
pretendida interessa um corpo feito à medida do território, cujo
volume e escala é concebido de fora para dentro e pela topografia.
A intervenção procura estabelecer um diálogo com a encosta onde se
insere, conferindo-lhe uma nova e artificial silhueta que não a
desvirtue mas antes complemente.
A sua percepção é uma realidade mutável, consequência da sua
materialidade. A sua observação é possível de diferentes ângulos,
mas também de distâncias variáveis, surgindo como um monólito de
xisto de diferentes expressões – pedra recortada na montanha
- enquanto na aproximação ler-se-á um corpo complexo em betão
texturado, cortado por frestas de diferentes calibres, que
denunciam o carácter habitável do espaço e a sua composição.
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Pedro Tiago Pimentel, arquitecto
Camilo Rebelo, arquitecto
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Além do valor cultural e patrimonial
presente em todos os trabalhos hierarquizados, o trabalho
apresentado pelos Arquitectos Pedro Lacerda Pimentel e Camilo
Bastos Rebelo propõe criar uma peça de cariz escultório e
emblemático, assumidamente contemporâneo, e acrescentando
mais-valias à paisagem.
Apresenta uma organização muito compacta, uma figura forte, capaz
de responder com clareza e intensidade aos valores da paisagem e do
território.
O júri considerou a solução arquitectónica extraordinária e
carismática. Uma inventiva e adequada resposta à integração na
envolvente. O acesso revela-se bem pensado, introduzindo um
compasso de espera entre a chegada, com uma noção clara da paisagem
e da envolvente, e a descida ao espaço do museu.
Os conceitos utilizados na memória descritiva são notáveis e
reveladores da consistência da proposta. Os espaços expositivos
estão bem organizados e o acesso aos serviços bem resolvido.
A estrutura funcional apresenta-se adequada às exigências expressas
no programa de intervenção, tendo contudo alguns aspectos que
requerem maior reflexão. A solução demonstra flexibilidade
evolutiva. Boa exequibilidade da solução, à luz dos actuais modos
de construção. |