Sebastião da Gama, o poeta e o
professor
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Poeta
português, nasceu em Vila Nogueira de Azeitão, a 10 de Abril de
1924. |
Concluiu o curso de Filologia Românica na Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa em 1947, e ainda nesse ano iniciou
a sua actividade de professor, que exerceu em Lisboa, Setúbal e
Estremoz. Foi colaborador das revistas Árvore e Távola
Redonda. |
Sebastião da Gama ficou para a história pela sua dimensão
humana, nomeadamente no convívio com os alunos, registado nas
páginas do seu famoso Diário (iniciado em 1949). Literariamente,
não esteve dependente de qualquer escola, afirmando-se pela sua
temática (amor à natureza, ao ser humano) e pela candura muito
pessoal que caracterizou os seus textos. |
Atingido pela tuberculose, que causaria a sua morte
precoce, passou a residir no Portinho da Arrábida, desde os 14 anos
de idade e no terraço deste forte, escreveu muitos dos seus poemas,
com a panorâmica serra da Arrábida a alimentar o culto pela
paisagem presente na sua obra. Foi, entretanto, instituído, com o
seu nome, um Prémio Nacional de Poesia. |
Em 4
de Maio de 1951, celebrou o seu matrimónio com Joana Luísa, no
"Conventinho da Arrábida", onde passaram também a Lua-de-mel; no
Jardim de S. Pedro de Alcântara, escreveu muitos dos seus poemas;
na Ermida do Senhor dos Aflitos, local por onde passava com
frequência e junto do crucifixo existente no interior, nasceu o
poema "Cristo". |
Estreou-se com Serra Mãe, em 1945. Publicou ainda Loas a
Nossa Senhora da Arrábida (1946, em colaboração com Miguel
Caleiro), Cabo da Boa Esperança (1947) e Campo Aberto
(1951). |
Após
a sua morte a 7 de Fevereiro de 1952, tinha apenas 27 anos; foram
editados Pelo Sonho é que Vamos (1953), Diário (1958), Itinerário
Paralelo (1967), O Segredo é Amar (1969) e Cartas I
(1994). |
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Poemas: |
Somos de Barro |
Meu País Desgraçado |
Toada do Ladrão |
Somos de barro. Iguais aos mais.
Ó alegria de sabe-lo!
(Correi, felizes lágrimas,
por sobre o seu cabelo!)
Depois de mais aquela confissão,
impuros nos achamos;
nos descobrimos
frutos do mesmo chão.
Pecado, Amor? Pecado fôra apenas
não fazer do pecado
a força que nos ligue e nos obrigue
a lutar lado a lado.
O meu orgulho assim é que nos quer.
Há de ser sempre nosso o pão, ser nossa a água.
Mas vencidas os ganham, vencedores,
nossa vergonha e nossa mágoa.
O nosso Amor, que história sem beleza,
se não fôra ascensão e queda e teimosia,
conquista... (E novamente queda e novamente
luta, ascensão... ) Ó meu amor, tão fria,
se nascêramos puros, nossa história!
Chora sobre o meu ombro. Confessamos.
E mais certos de nós, mais um do outro,
mais impuros, mais puros, nós ficamos. |
Meu
país desgraçado!...
E no entanto há Sol a cada canto
e não há Mar tão lindo noutro lado.
Nem há Céu mais alegre do que o nosso,
nem pássaros, nem águas ...
Meu país desgraçado!...
Por que fatal engano?
Que malévolos crimes
teus direitos de berço violaram?
Meu Povo
de cabeça pendida, mãos caídas,
de olhos sem fé
— busca, dentro de ti, fora de ti, aonde
a causa da miséria se te esconde.
E em nome dos direitos
que te deram a terra, o Sol, o Mar,
fere-a sem dó
com o lume do teu antigo olhar.
Alevanta-te, Povo!
Ah!, visses tu, nos olhos das mulheres,
a calada censura
que te reclama filhos mais robustos!
Povo anêmico e triste,
meu Pedro Sem sem forças, sem haveres!
— olha a censura muda das mulheres!
Vai-te de novo ao Mar!
Reganha tuas barcas, tuas forças
e o direito de amar e fecundar
as que só por Amor te não desprezam! |
A mim não me roubaram
Porque eu nada tinha.
Mas roubaram tudo
À minha vizinha.
Vejam os senhores:
Roubaram-lhe a ela
A filha mais grácil,
A filha mais bela.
Nem na sua casa,
Nem na freguesia,
Sequer no concelho,
Melhor não havia.
Prendada, bonita...
E depois... uns modos
De matar a gente,
De prender a todos.
Dizia a vizinha
Que era o seu tesoiro;
Que valia mais
Que a prata e que o oiro.
Que a não trocaria
Por coisa nenhuma;
Que filhas assim
Só havia uma.
Pois hoje um ladrão
Que há muito a mirava
Entrava-lhe em casa
Para sempre a levava.
É a minha vizinha
Dona de solares
E de longas terras
Com rios e pomares.
E de jóias raras
Que ninguém mais tinha,
Ei-la num instante
Pobrinha... pobrinha...
(Tem pomares ainda,
Tem jóias, tem oiro...
Mas de que lhe servem
Sem o seu tesoiro?)
- Vizinha e senhora,
Não me queira mal!
Se há ladrões felizes
Sou o mais feliz
Que há em Portugal.
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Os que Vinham da Dor |
Oração de Todas as Horas |
Os que vinham da Dor tinham nos olhos
estampadas verdades crudelíssimas.
Tudo que era difícil era fácil
aos que vinham da Dor diretamente.
A flor só era bela na raiz,
o Mar só era belo nos naufrágios,
as mãos só eram belas se enrugadas,
aos olhos sabedores e vividos
dos que vinham da Dor diretamente.
Os que vinham da Dor diretamente
eram nobres de mais pra desprezar-vos,
Mar azul!, mãos de lírio!, lírios puros!
Mas nos seus olhos graves só cabiam
as verdades humanas crudelíssimas
que traziam da Dor diretamente. |
Agora,
que eu já não sei andar nas trevas,
não me roubes a Tua Mão, Senhor,
por piedade!
Voltar às trevas não sei,
e sem a Tua Mão não poderei
dar um só passo em tanta Claridade.
Pelas Tuas feridas minhas, pelas tristezas
de Tua Mãe, Jesus.
não me deixes, no meio desta Luz,
de pernas presas...
Não me deixes ficar
com o Caminho todo iluminado
e eu parado e tão cansado
como se fosse a andar ... |
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O
poeta sempre foi um defensor da Arrábida, como podem ver na carta
enviada ao Eng.º Miguel Neves a propósito da destruição da "mata do
Solitário" |
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Esta
carta viria a constituir-se como acto fundador da liga para a
protecção da natureza (1948). |
Três
décadas depois é delimitado o Parque Natural da Arrábida,
estendendo-se por uma área de 10.821 hectares nos concelhos de
Setúbal, Palmela e Sesimbra. Foi criado pelo decreto lei 622/76, de
28 de Julho, constituindo-se, pela mesma altura, como reservas
integrais as matas do Solitário, do Vidal, da Coberta e da Pedra da
Anicha. Dada a sua relevância, o Conselho da Europa declarou todo
este espaço como reserva biogénica anexando-o às Redes
Internacionais de Conservação. |
Devido ao seu forte interesse faunístico que urge
preservar, todo este território foi ainda distinguido com a
classificação de "Sitio de especial interesse para a conservação da
Natureza - Biótopo CORINE". |
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Em 9
de Junho de 2007, o presidente da república, Aníbal Cavaco Silva,
inaugura o monumento a Sebastião da Gama, cerimónia incluída no
programa das comemorações do dia de Portugal e das comunidades
portuguesas, que nesse ano se realizaram em Setúbal. |
O
monumento é um projecto da Associação Cultural Sebastião da Gama,
cujo dirigente, João Reis Ribeiro revela que "houve, desde o
início, uma grande abertura da Presidência da República à
proposta". |
A
ideia de construir um monumento dedicado ao poeta da Arrábida há
muito que circulava entre amigos e conhecidos de Sebastião da Gama.
O impulso para a sua concretização aconteceu com a criação da
Associação Cultural Sebastião da Gama, em 2006, que, e desde logo,
apontou o corrente ano para a sua inauguração. |
Isto
porque passaram sessenta anos sobre três datas importantes para
Sebastião da Gama. Em 1947, começou a sua carreira como professor
na Escola Industrial e Comercial João Vaz, que hoje tem o seu nome.
Nesse mesmo ano, publicou o seu segundo livro de poemas, intitulado
“Cabo da Boa Esperança”, e assumiu publicamente a
defesa da Mata do Solitário na Serra da Arrábida, iniciativa que
deu origem à criação da Liga para a Protecção da Natureza no ano
seguinte. |
Tudo
razões, refere João Reis Ribeiro, que ajudam a compreender
Sebastião da Gama, definindo-o como “um cidadão poeta com
intervenção na vida pública”. |
A
Associação Cultural Sebastião da Gama anunciou já os nomes que
integram a Comissão de Honra do monumento a Sebastião da Gama, da
qual fazem parte, entre muitos outros, personalidades como o
ex-presidente da República, Mário Soares, a ministra da Cultura,
Isabel Pires de Lima, Maria Teresa Almeida, Governadora Civil de
Setúbal, e Maria das Dores Meira, presidente da Câmara Municipal de
Setúbal. |
Os
convidados que integraram a comissão dividem-se em três grupos,
nomeadamente amigos que privaram com Sebastião da Gama,
personalidades que têm contribuído para a divulgação da obra do
poeta e personalidades que, por inerência do cargo que desempenham,
estão relacionadas com a obra ou com os sítios que Sebastião da
Gama frequentou. |
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Ver:
Montagem: Video de Sebastião da
Gama de Vítor Martinho
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A
Cache: |
Pretende dar a conhecer quase todo o percurso da vida do
"Poeta da Arrábida" e a sua história. |
É uma
cache fácil, mas demorada, o trajecto total são cerca de 18
quilómetros. Podem no entanto, ir fazendo os pontos pedidos aos
poucos, conforme vão passando nos locais. |
Desfrutem do passeio pela Arrábida, tal e qual como o
poeta... Divirtam-se!
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