Extinta já há alguns anos, a profissão de moleiro está intimamente ligada à confecção do pão, que não seria possível sem este preliminar trabalho – transformação do cereal em farinha.
O moinho, ou a azenha, edifício de tecto abobadado, construído com robustas paredes preparadas para suportar as fortes correntes ou as piores cheias, deixou de ter a sua função como actividade artesanal, para dar lugar, no início do século passado, ao aparecimento de grandes moagens industriais. Este facto levou ao consequente desaparecimento da profissão de moleiro e por arrastamento ao fecho dos moinhos/azenhas. Os poucos exemplares que ainda restam, situados nos lugares mais pitorescos dos rios e dos açudes, com o intuito do aproveitamento da corrente a fim de fazer mover as pesadas mós de granito, ou se encontram abandonados, em decadência ou já mesmo arruinados.
O pagamento do trabalho do moleiro era pago em género, pelo dono do cereal, a chamada maquia. Por cada 50 kilos de trigo moído, ele retirava para si 2,5 kilos através de uma medida de madeira, o “salamim”( Celamim, antiga medida equivalente a um dezasseis avos do alqueire). Alqueire é uma antiga medida de capacidade para secos e líquidos, variando entre 13 e 22 litros. Em média o moleiro moía por hora 70 Kg de trigo e era considerado um moinho extraordinário aquele que moesse 100Kg.
Como o contínuo acto de moagem leva ao polimento das pedras e, por conseguinte, a uma diminuição acentuada da produção, o moleiro tinha que proceder à desmontagem da mó superior, virar a face trituradora para cima e efectuar uma operação denominada “picadura”. Com a ajuda de um martelo de cabeça aguçada ele picava então a mó, deixando-a áspera e pronta a moer mais cereal.
O moleiro, pescador por necessidade, efectuava as suas pescarias em armadilhas, conhecidas por caneiros, com que deliciava em dias e noites de azáfama, os fregueses que aos seus préstimos recorriam. Uma caldeirada bem regada, acompanhada com vinho, uns cantos à alentejana, ou o toque de uma gaita de beiços, retemperava as forças para mais um dia de labor...
|