O mosteiro de São João de Tarouca,
situado a 50 km a norte de Viseu (e cerca de 10 km a sul de
Lamego), testemunha o esforço de povoamento do território levado a
cabo pelos monges de Cister. Aqui, como em Alcobaça, Sta Maria de
Aguiar (perto de Castelo Rodrigo) ou Pitões das Júnias (Gerês),
encontramos espaço, terra fertil e água, aquilo que a
empreendedora ordem precisava para bastar ao sustento do corpo e da
alma dos seus membros, ao mesmo tempo que difundia junto do povo
novas e mais avançadas formas de semear e colher os frutos da
terra.
Ordem
A ordem de Cister foi fundada por
Robert de Molesme, e mais três monges, em 1098 em Citeaux
Abbey perto de Dijon, França. Segue a regra de São Benedito,
rejeitando os desenvolvimentos que os Beneditinos
introduziram. Enquanto estes adoptaram uma espiritualidade em
que o essencial é o serviço de Deus, o
opus dei, a que os
monges podem dedicar-se graças ao rebanho de servos, opõem-se
os adeptos (dentre os quais Cister) de uma mística que una a
oração e o trabalho manual praticado pelos monges juntamente
com os conversos ou irmãos leigos.
Em termos artísticos, Cister nega
toda a ostentação, visa despojar-se do acessório e buscar a
essencialidade em oposição ao simbolismo cluniacense. Renúncia à
escultura colocando-se dentro de uma corrente essencialista
presente no mundo cristão em movimentos iconoclastas quer na igreja
do oriente ou em determinada arquitectura moçárabe, quer no
primeiro românico e também na reforma carmelita; as ordens
mendicantes postularam a simplicidade na arte e na mesma altura o
movimento almoáda apregoa para a arte islâmica a mesma sobriedade
expressiva. Em oposição a uma outra frente que defende os excessos
arquitectónicos, artísticos, figurativos ou decorativos como
manifestação na terra de Deus no céu.
A Ordem de Cister expande-se para a
Península Ibérica ainda em vida de S. Bernardo, fixando-se em
Portugal em 1140 acompanhando a formação do território e a
afirmação política da 1ª dinastia. Será recompensada pelo rei pelo
apoio a Braga e Coimbra face a Toledo e Compostela ligadas aos
Beneditinos, pelo apoio da 2ª cruzada na tomada de Lisboa e por
último, mas não menos importante, à sua ligação ao papa em Roma, na
altura um cistercense.
Mosteiro
Ao que tudo indica, os primeiros
monges fixaram-se neste ponto do rio Varosa por 1140, ano em
que D. Afonso Henriques passou carta de couto a uma comunidade
observante da regra de São Bento. Quatro anos mais tarde, o
mesmo monarca doou o couto de Santa Eulália aos monges de
Tarouca, documento onde se refere, expressamente, que a
instituição se regia secundum Ordinem Cisterciensium. O ritmo
da construção do edifício (ou, pelo menos, da sua igreja) foi
bastante rápido. Através de duas epígrafes, sabe-se que a
primeira pedra do actual edifício terá sido lançada em 1154 e
que este foi dedicado em 1169, pelo arcebispo de Braga, D.
João Peculiar.
As grandes transformações
aconteceram nos séculos XVII e XVIII, períodos em que se
desenvolveram grandes programas de actualização estética e
funcional do conjunto. À fachada principal foi acrescentado o
actual portal, maneirista, encimado por nicho com a imagem de São
João, e os dois janelões barrocos. Sujeito a um parcial
restauro nos anos 30 e 40 do século XX, Tarouca é actualmente
objecto de um estudo integrado que visa esclarecer os pontos
essenciais da sua história medieval, com particular incidência para
a hipótese de assentamentos pré-cistercienses e para o seu
território baixo-medieval.