Não Esqueças o Senhor da
Serra...
... Esta frase acompanhava-me
durante todos o tempo. Após aquele velho ter entrado pelo meu
escritório dentro, a vociferar algo sobre um tesouro, o túmulo de
Viriato, Baal e outras
parvoíces esotéricas, nunca mais me saiu da cabeça. Tinha sido a
última frase que disse antes de ter sido arrastado pelos seguranças
escadas abaixo. Isto depois de me ter dado um papel com uma cruz e
uma figura humana, como que desenhada por uma criança e me ter
pedido: "Procura o tesouro!!!"
Sabia que Baal era o nome hebraico
de um deus Cananeu, mas que tinha isso haver com tesouros e
Viriato?? E que raio de desenhos eram aqueles. Tudo tinha aguçado o
meu apetite por uma boa aventura. A investigação iria começar.
Dia 1
Finalmente, depois de tantos livros
lidos, surgiu um local: BELAS. Este nome, é supostamente derivado
do hebraico Baal, e está
também inscrito numa mamoa em Gloucestershire (Gales) -
Belas Knap,
significando Monte do Farol. Assim que li isto não pude
deixar de recordar a lenda justificativa do topónimo de
Queluz, um príncipe perdido que encontra o seu caminho devido
a uma luz que viu brilhar no topo de um morro. Só podia ser
isso,tinha que saber mais sobre Belas!
Dia 2
A zona de Belas é hoje em dia mais
um subúrbio de casas amontoadas umas nas outras, mas outrora tinha
tido uma pré-história cheia. Ainda hoje muitos dos monumentos
neolíticos da região de Lisboa aqui se encontram. O conjunto das
antas de Belas é o exemplo por excelência disso. Composto
pelas antas de Monte Abraão (mais um nome semita -
suspeito!), da Pedra dos Mouros e Estria, agora separados por
uma via rápida, mostra a intensa religiosidade deste local.
Estava no caminho certo...
Esperem um momento, a anta da Pedra dos
Mouros, classificada como monumento nacional por decreto de 16
de Junho de 1910, é também conhecido como do Senhor da Serra.
Meus olhos brilharam quando continuavam a ler a sua
história:
"Pode bem ser a sepultura de
Viriato que João de Barros (Descrição do Minho) afirma ter visto
em Belas, na quinta que fora da Infanta D. Brites, mãe do rei
D. Manuel. O mesmo João de Barros refere-se a uma inscrição, na
«arca de pedra», onde a custo se lia Hic jacet Viriatus Lusitanurum Dux, e
a uma espada com letras inteligíveis que se achara na
sepultura."
Outro livro dia-me que este dólmen
andou, pelo menos até meados de 1940 (quando a romaria do Sr da
Serra, que tinha lugar no último domingo de Agosto, foi extinta),
"associado a práticas de fecundidade descritas da seguinte forma:
«A tampa desta grandiosa sepultura neolítica está tombada com
uma inclinação de 35º e afecta a forma fusiforme. Pois quando se
realizava a popular festa do Sr da Serra as moças casadas de fresco
subiam até ao topo da pedra, tiravam as cuecas, quando as tinham,
sentavam-se e escorregavam até à base, na crença que podiam
conceber. A superfície está toda gasta e polida.»
Não esqueças o Senhor da
Serra.....
Dia 3
Tinha de encontrar este dólmen, ou
anta, ou sepultura ou lá o que fosse, sentia que o tesouro estaria
perto dele!
Descobri que se encontrava na
quinta dos marqueses de Belas, classificada - juntamente com a
capela e o obelisco - como imóvel de Interesse Público (1943). O
obelisco situado junto ao rio Jamor, foi construido po iniciativa
do conde Pombeiro para comemorar a visita dos príncipes regentes
(futuro D. João VI) à sua propriedade. Executado em calcário tem na
sua face sul uma estátua alegorica da Fama. Actualmente
encontra-se debaixo do tabuleiro da CREL. Até já tinha as
coordenadas, só faltava lá ir.
Dia 4
De frente do Monte Abraão
(wp1 N38º
46,090 W9º 15,890), aqui começava a busca do
tesouro do Sr da Serra. Norte, sempre para norte era para
onde tinha de ir, pelo menos até wp2 N38º 46,274 W9º 15,858. Aqui,
segui o caminho e ele levava-me para baixo em direcção a
este. O caminho estava bem marcado, alguns carros até
conseguiriam chegar até aqui, mas desconheço por onde
entrariam, até que cheguei a uma bifurcação (wp3 N38º 46,264 W9º 15,746).
Sabia que podia continuar a descer, ou virar já aqui à
esquerda. Decidi-me pela segunda hipótese, e uns metros mais
á frente meti-me pelo caminho à direita que ia
estreitando, sempre em direcção a wp4 N38º 46,311 W9º 15,806. Continuava sempre com
a grande torre à esquerda, seriam estas estruturas
consideradas daqui a 1000 anos os menires do futuro? No wp4
encontrava a entrada da quinta, mesmo debaixo do viaduto da
CREL, pelo menos a primeira. A segunda estava mesmo à frente
(wp5 N38º
46,341 W9º 15,797).
A partir daqui estava por minha
conta, mas mesmo à minha frente estava a coordenada publicada. O
que se esconderia nessa sítio?
O GPS começava-se a passar. A
cobertura satélite não era famosa, por causa da vegetação e das
paredes da igreja em ruínas. Eu tinha lido sobre ela. Era um templo
setecentista e encontrava-se em bom estado de conservação nos
inícios de 1980, tendo desde então sofrido diversas pilhagens.
Ainda se vê restos de azulejos azuis e brancos que forravam as suas
paredes.
Por momentos o GPS indicou-me o
sitio certo, sim só podia ser ali. De frente para a entrada
principal - emparedada, na esquina da esquerda, mais ou menos
a meio metro do chão, encontrava-se aquela assinatura. O papel
daquele velhote continha esta mesma assinatura, três letras apenas,
DIO. A data por baixo tinha certamente algum significado. Era uma
pista para eu seguir. A soma de todos os dígitos dava 23 (teria
algum significado cósmico? era pelo menos um número primo).
Somei o ano ao mês
(AB)
e isso deu-me uma latitude ali perto (N38º 46,3AB). Depois somei o ano
com o dia e subtrai quatro vezes o mês (CD) e, o que
parecia impossível aconteceu, o resultado dava uma longitude
a menos de 300m (W9º
15,9CD). Era bastante
perto do dólmem.
Antes do tesouro, fui ver a grande
pedra e estava realmente bastante polida. Os meus olhos não
acreditavam no que viam. Aqueles desenhos do papel do velhote
estavam mesmo ali à minha frente. Eram genuínos, mas estavam no
meio de muitas inscrições bem recentes.
Estaria em frente da sepultura de
Viriato? Se sim, este era o fechar de um ciclo que tinha começado
no local de seu nascimento, nos distantes monte
hermínios. No entanto, esta hipótese parecia-me loucura de um
velho...
Dia 5
O tesouro tinha sido encontrado,
não era nada de valioso, tinha uns pequenos bonecos que pareciam
ter saido num qualquer "happy meal". E quem seria aquele velho, que
me pareceu ter visto hoje novamente numa esquina. Não consegui
falar com ele mais vez nenhuma, será que ele estava apenas a
certificar-se de que eu descobria o segredo?
ATENÇÃO: por favor façam o percurso
recomendado, se não fosse para isso, não o teria descrito com tanto
pormenor. Se o fizerem, não vão ter
de saltar qualquer vedação ou muro, é só seguir os caminhos
existentes.
under the bridge (N38º 46,348 W9º
15,717) |
the ruines (N38º 46,378 W9º
15,781) |
stones (N38º 46,379 W9º
16,003) |
MAPAS: