A captação de energia tem sido uma constante da raça humana.
Ao longo dos tempos tem permitido desenvolver as sociedades,
dotando-as de mais tempo, na razão directa da redução do
esforço físico, gerando espaço para o engenho e a criação.
Os moinhos de vento permitiram a sustentação das populações
que, ao contrário dos nossos dias, que gozamos de uma variedade
nutricional maior, apoiavam a sua dieta fundamentalmente no pão.
O pão era feito à mão, requerendo um elevado esforço físico, com
duas pequenas mós de pedra que, ao rodar com a impulsão do braço,
moía os grãos de cereais até obter farinha suficiente. Era uma das
árduas tarefas das mulheres da casa. É fácil perceber a importância
que os moinhos tiveram, diminuindo o tempo e o grande esforço para
obter este alimento tão básico. Como curiosidade, a Organização
Mundial de Saúde recomenda que devemos comer 50 quilos de pão
por ano. Isto dá pouco mais de 4 quilos por mês.
Existem referências escritas a moinhos de vento em Portugal, pelo
menos desde os séculos XIII/ XIV.
Mas os moinhos de vento mediterrâneos, como o que resta destes
que vos queremos mostrar, têm algumas particularidades que os tornam
únicos e com semelhanças a outro dos nossos grandes recursos (apesar
da decadência): o mar, mais concretamente, os barcos.
A estrutura de madeira que encima os moinhos – o capelo – gira
360º, permitindo ao moleiro aproveitar o vento de qualquer dos lados.
Existe um mecanismo no seu interior – o sarilho – que permite facilitar
a rotação manual do capelo. Este assemelha-se ao cabrestante, onde
se enrolam os cabos para puxar as âncoras dos navios.
Um eixo liga as velas, atravessando o capelo, até ao início do
mecanismo (de madeira dura, como o carvalho, o azinho ou o sobreiro,
outrora abundantes na região) que transmite a energia eólica às duas
mós, feitas em pedra dura, como o granito. Este eixo chama-se mastro
e possui, na sua extremidade exterior, um conjunto de varas com velas,
com um corte muito semelhante às velas latinas, que equipavam as nossas
caravelas.
As 4 velas assemelham-se ainda, à distância, à cruz que as caravelas e
naus portuguesas usavam no velame, símbolo da antiga Ordem Militar
de Cristo, grande promotora e financiadora dos Descobrimentos.
Para parar o moinho, depois de fazer uma rotação ao capelo até o vento
deixar de exercer força nas velas, o moleiro podia então enrolar os panos
nas varas, como se fazia e faz nos barcos.
Estas semelhanças fazem dos moleiros uns marinheiros sem mar, ao
serviço da sua comunidade. Era um ofício relevante, que decaiu com a
energia eléctrica e a moagem industrial.
É pena não se preservar este pedaço da nossa história, grassando o
abandono destes edifícios de cariz rural. Até porque os moinhos estão
normalmente implantados no topo de uma elevação de terreno, com uma
vista agradável sobre o campo e até do mar, dando excelentes miradouros.
Em Aljezur existem vários moinhos recuperados. Este trabalho permite
mostrar às gerações futuras um pouco de como era o nosso Portugal rural.
Deixamo-vos não um, não dois, mas três fantasmas de moinhos, que um
dia certamente foram fundamentais ao sustento das localidades mais
próximas.
Num dia de sol, é possível ver um pouco de mar e as serrarias que
envolvem o monte.
English version (resume)
The windmill provided a basic ingredient to the primordial food element
for the local populations between the XIII and the XIX century, before
the industrialization.
The bread was a fundamental part of the Mediterranean diet, same times
almost the only one.
Before mechanical grinding, the women used their hands and time to
process the grains into flower, using two small circular stones. You
can see the improvement, the time gain and the production scale that
the windmill permitted.
Portuguese references of windmills go back to the XIII/ XIV century.
In other countries, like Holland, the windmills were used to pump water.
This three ghost windmills were, in the old days, fundamental to the
ancestors of those woo are letting them decade.