Esta cache pretende levar-vos a conhecer uma
extracção de ouro romana (Conhal do Arneiro), que se encontra
junto a uma das mais maravilhosas paisagens do Tejo. E como
não poderia deixar de ser um convite a uma pequena
caminhada.
Nota: Não procurem uma mina porque o que aqui vão
encontrar não se assemelha a nenhuma cavidade!
This cache will take you to a roman gold mine. To get there you’ll
walk along one of the most beautiful Tejo
landscapes.
Note: Do not look for a mine. What you’ll find
in here has nothing to do with open pits!
Temos por hábito tentar aproveitar todas as
oportunidades que os programas Ciência Viva de Verão nos
oferecem e até hoje tem sempre valido a pena. São muitas as
surpresas que nos têm relevado e muitos os conhecimentos
transmitidos. Em muitas destas visitas temos afirmado que:
“aqui ficava bem uma cache!” No caso do Conhal do Arneiro
sentimos mais forte a necessidade de concretizar essa
vontade. Vamos tentar passar o máximo que conseguimos reter
do que foi transmitido pelo simpático grupo de geólogos
(alguns deles pertencentes ao Geopark Natutejo - o primeiro
geoparque português, sob os auspícios da UNESCO) que nos
acompanhou e a quem agradecemos muito.
This cache is located in Geopark Naturtejo – the
first Portuguese geopark. We had the chance to know this
place in a Summer visit organized by geologists, during the
programme “Ciência no Verão”. This initiative intends to
establish a closer contact between Portuguese scientists and
the general population, giving everyone the chance to know a
little bit more about scientific work concerning Geology,
Biology and Astronomy.
Conhal do Arneiro
O Conhal do Arneiro encontra-se a jusante das famosas Portas do
Ródão. As Portas do Ródão são o testemunho da persistência do rio
Tejo sobre a poderosa crista quartzítica, que o tentou parar. É
aqui que o Tejo tem a sua maior profundidade (aproximadamente 50
metros) provocada pela enorme queda da água que ali existia, já que
a crista funcionava como uma parede de uma represa. Antes de se
recorrer a dinamite, para libertar de vez o rio deste poderoso
estrangulamento, este local era o limite de navegabilidade do
Tejo.
Do Conhal conseguimos ver também: o castelo de
Ródão, a ilha (que mais parece uma península) da Fonte das
Virtudes, a foz do Enxarrique, a Serra de S. Miguel e a Serra
das Talhadas. No ar dominam os grifos (Gyps
fulvus) e na terra o zimbro (Juniperus
sp.) e a oliveira (Olea europaeae),
completando assim uma paisagem deslumbrante. No Verão pode-se
sentir o aroma adocicado da esteva (Cistus
ladanifer) e funcho (Foeniculum
vulgare).
Conhal do Arneiro
The roman gold mine, in Conhal do
Arneiro, can be found downstream of the Tagus river, right after
the famous Portas do Ródão. In Portas do Ródão the Tagus river
flows entrenched between gigantic quartzites outcrops. After this
barrier the landscape opens over a wide plain. In this place the
Tagus is 50 m deep due to an enormous water fall that used to exist
in here. The gigantic stone wall was then broken by means of
explosives.
From Conhal do Arneiro we can see: Ródão castle, the island of
Fonte das Virtudes, mouth of the river Enxarrique, S. Miguel
mountain, and Talhadas mountain. Flying above you there usually are
griffons vultures (
Gyps fulvus
), and in the ground there are junipers (
Juniperus
sp.) and olive trees (
Olea europaeae
). In Summer you can smell the aroma of rockrose gum
(
Cistus ladanifer
) and fennel (
Foeniculum vulgare
).
Ouro? Aqui…?!
Os romanos, quando aqui chegaram no séc I A.C.,
aperceberam-se que este local oferecia ao Tejo o descanso
merecido após ter vencido as Portas do Ródão. Aqui o rio
perdia uma boa parte da sua capacidade de transporte, pelo
que se depararam com 6m (em altura) de sedimentos acumulados.
Não demoraram muito a perceber que estas areias eram ricas em
ouro, que tinha sido trazido até aqui pelas águas do
Tejo!
No entanto a tarefa de remoção do apetecível
minério não prometia ser fácil: as finas areias
“enriquecidas” encontravam-se “misturadas” com uma enorme
quantidade de pedras roladas (quartzitos) mais resistentes e
sem interesse económico.
Os romanos não se detiveram e deitaram mãos à
obra!
Gold? Here…?!
When Romans arrived in this place they
immediately figured that as a result of the slowing of the river
currents, the area would be a suitable target for gold exploration
and found 6 m of pilled up sediments that were actually rich in
gold!
Yet, to get their hands on the gold, they would
still have to work hard! The gold was held in the matrix of fine
sands that were among masses of quartzite gravel that set here
after travelling along the fearful river.
Still they were determined to stop at
nothing…!
Engenharia romana
Para realizar esta empreitada foi necessário criar uma autêntica
“indústria” no local. Construíram-se canais que desviavam água da
Ribeira de Nisa, e conduziam-na através da Serra de S. Miguel, até
um sistema de retenção. Aí, o volume de água permitia alcançar
pressão suficiente para que fosse depois canalizada contra os
sedimentos “desmontando-os”.
Numa primeira fase, grupos de homens separavam as
pedras roladas (de maior dimensão) à mão, dos restantes
sedimentos, originando os amontoados visíveis ainda hoje na
paisagem (alguns com 5 m de altura!). Daí, os sedimentos eram
canalizados ao longo da exploração através de canais criados
para esse efeito, que foram construídos com algumas das
pedras roladas excedentes.
Estes canais conduziam a água rica em sedimentos (e
ouro!!!) até uma lagoa no meio da exploração, onde os
minerais eram concentrados. Nesta segunda fase os sedimentos
eram bateados (à semelhança do que fazem os garimpeiros) para
a separação final do ouro. Para que não escapasse nenhum mg
do precioso metal havia ainda um outro sistema que consistia
na colocação de plantas ao longo dos canais, onde os
sedimentos mais finos iam ficando presos. Regularmente estas
plantas eram recolhidas e queimadas até formarem cinzas. As
cinzas eram depois crivadas para se proceder à recuperação de
algum ouro que lá tivesse ficado!
Os excedentes deste processo eram depois
canalizados para o Tejo através de canais de evacuação de
estéreis, facilmente identificados a norte da exploração
(assemelham-se a pequenos muros de pedras
roladas).
Roman engineering
To come to terms with it Romans had to settle an
“industry” in this place. They built channels to bring water
from the Nisa Stream, along the S. Miguel Mountain, to a
retention dam. Once in there, the water would build up enough
pressure to be “shot” against the pilled up sediments in
order to disaggregate them.
In a first phase, groups of men would separate
the large stone gravel from the other sediments, using their
hands. The large stones were pilled up as they went on,
creating the landscape we can observe today. From there, the
fine, gold-bearing sediments would go on, through channels
made of the same stones that were
hand-removed.
Water (with small sediments) would flow through
these channels to a small lagoon, in the centre of the gold
exploitation, where other groups of men would sort out the
gold, in a process called gold panning. There was still
another process to make sure no gold would go unnoticed: they
put plants in the channels, so that smaller sediments would
be trapped in the leaves and branches as the water passed by.
From time to time, they would remove the plants and burn them
to ashes. Then, the ashes were “filtered” and the gold was
removed.
The remains of this process were then channelled
to the Tagus river through channels that can still be
observed north of the mining area.
É tudo… ou ainda há mais?
Neste local o terreno foi totalmente terraplanado
em 6 m (de altura). Foi então que os romanos se aperceberam
que o solo que estava por baixo lhes reservava uma surpresa:
sob os 6 m de sedimento “dourado” que haviam cautelosamente
perscrutado havia mais 15 m de sedimento, com maior teor em
ouro! Outros sistemas hídricos de caudal inferior ao do Tejo
tinham aqui deixado areias preciosas!
A exploração continuou, mudando para sempre a
paisagem deste local! Foram removidos 15 m de sedimento em
toda esta zona. No entanto, no centro da exploração podemos
encontrar um pedaço de terreno intocado, que mantém os seus
cerce de 15 m de altura em relação à área envolvente! Do topo
desta elevação, conhecida por castelejo, podemos ter a
percepção do volume de terras explorado. A sua posição
central é estratégica e, por esse motivo, serviria
provavelmente para controlar a mina e o tráfego fluvial.
Aconselhamos uma subida ao castelejo (quanto mais não seja
para poder deitar as mãos à cache…) e visualizar toda a
extensa escombreira formada por gigantescos amontoados de
seixos, testemunhos da arrugiae romana.
Este achado valeu o investimento provável de cerca
de 2 séculos (I A.C. a I D.C.), para remover mais de 10 km3
de terra, tendo-se obtido cerca de 3 toneladas de ouro.
Is that all…?
In this area the Romans removed 6m of soil. It
was then, that they realised that under those 6m, laid a better
surprise: beneath their feet, another 15 m of soil held even more
gold! These newly found sediments had been brought here by ancient
water streams that didn’t carry as much water as the Tagus
river.
The mining went on, and changed the landscape of
this place forever. 15 m of sediments were removed, in all this
area, except for the centre: the so called “castelejo” is a small
hill, 15 m tall, placed right in the centre of the mining camp,
from where Romans could control the mining activity, and probably
boat traffic in the Tagus river. We recommend you go up this hill
(since the cache is actually in there) and take the time to observe
the landscape, and get a clear picture of the full extension of the
ancient mining operations: try identifying the piles of sediments,
the Tagus river, and the channels. The hill is made up of the same
materials that Romans panned for gold so you can try to imagine
what’s missing in the landscape!
It took Romans 2 centuries (I BC to I AC) to
move 10 km3 of land to obtain 3 tons of gold.
Cache
A cache encontra-se no meio do Conhal do Arneiro.
Para chegar ao Arneiro devem sair na estrada N18, que liga
Nisa a Vila Velha de Ródão, ao km 128. Recomendamos que
deixem o carro na povoação do Arneiro, comam uma sopa de
peixe, e iniciem o percurso pedestre que aí
começa.
Se não quiserem efectuar todo o percurso a pé, o
Conhal fica apenas a 2.5km da povoação do Arneiro.
Se não quiserem andar mesmo nada podem ir de carro:
conduzir pelas estradas de terra batida e seguir as
indicações de Tejo/Pego das Portas (cais fluvial) ou mesmo as
indicações de percurso pedestre (não aconselho é que subam a
Serra). Ao chegar ao Conhal devem atravessar a pé o mar de
seixos.
The cache
The cache is located in the centre of Conal do
Arneiro. You can find directions for Arneiro (km 128) in N18 road,
leading from Nisa to Vila Velha de Ródão. We suggest you park your
car in Arneiro and enjoy the local fish soup. Then walk to the
cache for 2,5 km.
If you don’t want to walk these 5 km, you can
drive through “dirt roads” following directions to Tejo/Pego das
Portas. Once at Conhal, walk through the gravel.
Percurso pedestre PR4 – Trilhos do
Conhal
Este percurso circular de 9.8 km, dificuldade média (apenas devido
à subida da serra de S. Miguel), e duração estimada de 3h 30min
leva à total percepção do conteúdo paisagístico.
Para mais informações sobre este percurso sigam o
link http://www.cm-nisa.pt/desporto/pr4.pdf
O seu início encontra-se junto à Junta de Freguesia
do Arneiro (confirmem as horas no relógio de parede) cuja
povoação viveu em tempos da actividade piscatória. Testemunho
disso são os barcos em pinho que se encontram no Tejo (um
deles está na rotunda à entrada da povoação). O Arneiro é
conhecido pela sua sopa de peixe. Um prato tradicional cujo
segredo é o barbo. Se tiverem sorte a vossa sopa pode ser
servida em recipiente de cortiça!
De barriga cheia podem optar por partir rumo à
serra de S. Miguel e encontrar o Buraco da Faiopa. Terá sido
uma mina de ouro explorada por Cartaginenses e Fenícios.
Conta a lenda que era usada por D. Urraca, esposa de um
fidalgo cristão, que se apaixonou por um nobre mouro e
utilizou a passagem até ao rio para ir ao seu encontro. Como
será de esperar é uma lenda que corre mal por causa dos
ciúmes do marido. Como não vale a pena associar mais
desgraças ao buraco não se aventurem por lá ! Devem então seguir em direcção às
Portas do Ródão e descer ao Conhal.
Se, ainda no Arneiro, optaram pelo outro sentido,
vão dar directamente ao Conhal. Uma vez aí só têm que fazer
um desvio para a cache e para o cais fluvial, onde podem
admirar as Portas do Ródão de uma outra
perspectiva.
The path is circular, 9.8km long and of medium
difficulty (the most difficult part is going up serra de S.
Miguel) and can be done in 3h 30min.
For more information: http://www.cm-nisa.pt/desporto/pr4.pdf
You can initiate your hike at Arneiro. This was
a fishermen village so you can still find some pine boats.
Arneiro is well known for its fish soup. The main fish is
bardo, which is often served in a typical cork plate.
You can choose to go up Serra de S. Miguel and find the Buraco da
Faiopa. It was an ancient gold mine. Avoid entering there because
it can be quite dangerous. Follow to Portas do Ródão and finally to
Conhal.
Or you can go directly to Conhal from Arneiro. From there you can
visit the river side and take a nice photo of Portas do
Ródão.